Falar sobre o tempo é uma tarefa muito difícil. Ainda mais quando se olha para o tempo com certa nostalgia, com certo pesar de uma vida inteira que já se foi. Em A Despedida, filme de Marcelo Galvão, simbolismos de relógios sobre o tempo que já passou são pulsantes. O belíssimo filme sobre a velhice teve a sua estreia em agosto de 2014 no Festival de Gramado, foi aplaudido de pé pela crítica e público e, desde então, vem sendo exibido em festivais pelo Brasil e mundo afora com o mesmo sucesso. Na 18ª Mostra de Cinema de Tiradentes não foi diferente: ao final da sessão, o longa foi ovacionado pelo público.
A trama acompanha um dia na vida de um Almirante (Nelson Xavier) de 92 anos que percebe que o fim da vida está próximo. Ao acordar, ele percebe que não levantou com as fraldas molhadas e esse é o impulso para ele partir para uma jornada, sozinho, a fim de reencontrar com pessoas que fazem parte de seu passado. Como o próprio personagem diz, ele já não tem nada, só lhe resta despedir de tudo o que foi importante. Inclusive de sua amante (Juliana Paes), anos mais nova que ele.
O destaque de todo o filme é a atuação brilhante do veterano Nelson Xavier. A dedicação ao personagem é tão grande que acredito ser a melhor atuação que vi nos filmes do ano de 2014. As cenas iniciais, onde acompanhamos o tempo do Almirante, são de uma realidade assombrosa. Somada a excepcional atuação, o design de som se mostra genial e sensível quando acompanha a dificuldade auditiva do personagem.
A ausência de trilha sonora em momentos cruciais do longa deixam toda a emoção da cena por conta das belíssimas atuações. A direção é muito segura do que faz e cada cena está no lugar correto, inclusive o terceiro ato, que é de uma grandeza e generosidade ímpar. Somado a isso tudo, a belíssima fotografia de Eduardo Makino acompanha a jornada do Almirante com tons frios, no início, até que, no terceiro ato, o Almirante se vê rejuvenescido e tons quentes tomam conta da tela.
A Despedida é um grande filme que nos mostra com dignidade os limites da terceira idade. Como o próprio personagem afirma ao decorrer do longa, o problema não é ficar velho, é ter consciência desse estado de fragilidade em que se encontra e lembrar que um dia já fora jovem. E ainda quebra o tabu de que o amor não tem idades. Um filme sensível e tocante que possui uma força gigante.
Texto originalmente publicado em: www.portalcritico.com/2015/01/critica-a-despedida-2014.html
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