"VOCÊ É O PIOR PIRATA DE QUEM EU JÁ OUVI FALAR!!!..."
"AH, MAS VOCÊ JÁ OUVIU FALAR DE MIM..."
Jack Sparrow responde essa afirmação com um grande ar de satisfação. O antagonista alucinado criado por Johnny Depp foi inspirado no insano guitarrista dos Rolling Stones, Keith Richards e no personagem da Looney Tunes da Warner o Pepé Le Pew de acordo com o próprio Depp. Sparrow possui um ego tão inflado, impossível de se abalar até com a mais agressiva crítica a sua pessoa. Com evidentes delírios de grandeza e opulência, o personagem tinha sido repelido com vigor pelos produtores executivos do longa, pois não acreditavam que os trejeitos e maluquices do pirata agradaria jovens e crianças e faria sucesso com o público adulto. Ledo engano. Alguns dos melhores filmes da história da 7ª Arte foram baseadas em ideias malucas. O próprio filme é. Quem diria que um famoso brinquedo dos parques Disney iria arrecadar US$ 654.264.015 ao redor do mundo?
A confiança do produtor Jerry Bruckheimer era tanta no projeto que ele não poupou esforços para leva-lo adiante, orçando-o em torno de US$150.000.00 Os executivos queriam Matthew McConaughey encabeçando o longa, já que Depp até então não era tão conhecido entre as grandes massas. Hoje ninguém imagina outra pessoa no papel do pirata a não ser o Glen Lantz de "A Hora do Pesadelo". Mesmo que vários cenários tenham sido reproduzidas digitalmente pela conceituada "Industrial Light & Magic", varias locações foram construídas em locais reais como o Port Royal na Califórnia e a Ilha de São Vicente no próprio Caribe. Mas também, não seria pra tanto, com um orçamento pomposo era esperado que os quesitos técnicos estivessem a altura, a fotografia de Dairusz Woslki por exemplo está estupenda, a maquiagem retrata bem a composição suja dos piratas e os efeitos especiais são fantásticos demonstrando bem as batalhas, os barcos e toda a composição aliada a belos figurinos, paisagens e uma fantástica direção de arte.
O filme conta a história de Will Turner, um jovem ferreiro que é apaixonado por Elizabeth, a filha do governador. Quando a garota é raptada pela tripulação do Pérola Negra, navio comandado pelo cruel Capitão Barbossa, Will decide resgatá-la e, para isso, solicita a ajuda de Sparrow, que encontra-se preso. O problema é que eles não sabem que o Pérola Negra está amaldiçoado e que, sob a luz do luar, Barbossa e seus tripulantes se transformam em esqueletos ameaçadores. O roteiro inicial era uma aventura mais séria e direta sem os elementos sobrenaturais que são vistos na película, mas Bruckheimer empolgado por ressuscitar um gênero que segundo ele fez parte de sua infância, queria uma aventura mais a lá 'Indiana Jones'. Os autores do excelente script é a dupla responsável por "Shrek", "Aladdin", "A Máscara do Zorro" e vários outros, Ted Elliot e Tery Rossio. A desconfiança atingia todos também pelo fato do fracasso mundial do ultimo filme do genero em 95 "A ilha da Garganta Cortada".
O diretor Gore Verbinski não é um cara primoroso nem um gênio do cinema e embora tenha entregado filmes ótimos como "Um Ratinho Encrenqueiro", "Rango" e "O Chamado" possui em seu currículo bombas estratosféricas como "A Mexicana" e "O Cavaleiro Solitário", aqui ele entrega talvez seu melhor filme. Sem se render a um recurso muito copiado na época a tal da câmera tremida, os poucos embates na fita são focados e conseguimos observar todos os objetos em tela. Verbinski ainda consegue alterar de forma bem orgânica os momentos de terror como a tomada que mostra um exército de esqueletos caminhando no fundo do oceano que é aterradora e as cenas cômicas principalmente geradas pelos tripulantes do Perola. Além disso, as transformações acabam funcionando como recurso dramático para acentuar a ação, como na sequência de duelo em que os piratas atravessam fachos de luar durante a briga, oscilando entre suas versões em carne-e-osso e aquela mais fantasmagórica.
Nunca achei Orlando Bloom nem a Keira Knightley exímios atores, pra mim são mais rostos bonitos, mas claro possuem certas qualidades e aqui Will Turner e Elizabeth Swann dão pro gasto, dentro do que é pedido na trama, mesmo que na trilogia o amor dos dois seja explorado a todo momento, a meu ver a relação entre eles é um dos poucos pontos baixos da narrativa, não consigo torcer pra que eles fiquem juntos, sei lá pode ser somente cisma minha mesmo ou talvez seja uma casal sem sal. Ainda fechando o time de apoio, temos participações de luxo de Jonathan Pryce, Jack Davenport, Mackenzie Crook e a sempre bela Zoe Saldana, todos bem em seus papéis. Mas os melhores atores em cena que exalam genialidade nos poros é sem dúvidas Depp e Geoffrey Rush. Rush é extremamente hábil ao conseguir ilustrar o sofrimento de seu personagem, que já não suporta mais a maldição que o acompanha. Além disso, sua impaciência ao ser obrigado a ouvir os enlouquecidos argumentos de Jack Sparrow é hilária e, consequentemente, o filme sempre se torna melhor quando os dois atores dividem a cena.
Mesmo com todas os predicados técnicos, 5 indicações ao Oscar, roteiro coeso e sucinto e todas as outras qualidades do longa, não tem como não se render a alma do filme o Jack Sparrow de Johnny Depp. Lógico a primeira atuação é claro. A franquia Piratas do Caribe conta com um segundo filme que talvez seja um dos melhores em transições de trilogias da história, mas conta com um terceiro longa que poderia ser bem melhor e um quarto episodio totalmente caça-níquel e desnecessário e vem o 5º por aí, mas como Michael Bay já provou, bilheteria nem sempre é sinônimo de qualidade e enquanto os filmes estiverem gerando milhões de Obamas para os produtores, mais sequencias seram lançadas. Eu ainda fico com esse primeiro e Jack Sparrow. Não há dúvidas de que o ator foi extremamente corajoso ao transformar o herói de uma aventura em um indivíduo cheio de estranhos maneirismos e andar trôpego, como se estivesse sempre bêbado em um cara que você queria tomar uma cerva com ele. As chances de que sua caracterização exagerada fosse criticada eram imensas, mas sua composição foi tão fenomenal que tanto público e crítica se renderam a sua atuação e digo mais, Depp poderia muito bem ter saído com a estatueta dourada de Melhor Ator da cerimonia do Oscar no lugar de Sean Penn em 2004... Quem diria que rum e pipoca seriam uma mistura tão boa?...
"Nunca achei Orlando Bloom nem a Keira Knightley exímios atores, pra mim são mais rostos bonitos" - Bingo!
O melhor blockbuster de Depp e o segundo melhor da série. Nunca fui fã da Disney e sou crítico de suas produções, mas acho que este sim é um baita pipocão.
Jack Sparrow já é um personagem icônico.
O texto, está muito bom, Lucas. Parabéns.
Uma pergunta: será que só eu acho Zoe Saldana tão má atriz quanto "não bela"?
Hahaha, Saldana tem uma 'beleza exótica' por se dizer assim, mas gosto dela... Obrigado mais uma vez caro Cristian...