REBELDIA E TERNURA EM CONFLITO
Matt Damon e Ben Affleck podem não estar entre os nomes mais talentosos de Hollywood na atualidade (prinipalmente Ben Affleck), mas levar a estatueta de Melhor Roteiro Original (merecida ou não) aos 27 e 25 anos, respectivamente, foi um feito notável. A obra provedora de tal notabilidade é o bom - e somente bom - Gênio Indomável (Good Will Hunting, 1997), embalado pela música do mestre Danny Elfman.
Will (Matt Damon) é um jovem rebelde e problemático que trabalha como faxineiro da MIT, maior universidade de engenharia do mundo. O que lhe falta em habilidades sociais, sobram com números, estatísticas, fórmulas e fatos históricos e conhecimentos artísticos. Resumindo: Will é um gênio. À ponto de, sorrateiramente, solucionar um problema estabelecido pelo professor Gerald Lambeau (Stellan Skarsgård) para seus alunos resolverem durante a semana inteira, sendo que os melhores professores do instituto levariam algum tempo para solucionar. Intrigado e deslumbrado com as habilidades do jovem Will, o Prof. Lambeau decide investir no jovem, com a condição de que este submeta-se a terapia. Após inúmeras tentativas frustradas de encontrar um terapeuta que se dispusesse à tratar de Will por mais de uma sessão, Sean Maguire (Robin Williams), um terapeuta excêntrico, amigo do prof. Lambeau, resolve levar adiante o tratamento do rapaz e acaba envolvendo-se num turbilhão de sentimentos e conflitos internos dispertados por aquele fascinante jovem.
Porém, a presença de Will é uma afronta ao ego dos outros personagens, que vêem suas tão orgulhosas conquistas em ruínas diante de tão brilhante menino. Como não sentir-se incomodado com um garoto brigão capaz de subjulgar seus talentos com tamanha facilidade? De que adiante se gabar de sues feitos conquistados com tanto esmero, se um faxineiro delinqüente pode atingí-los sem o menor esforço e em tão pouco tempo?
Robin Williams e seu Sean Maguire é quem dá uma sustentação maior ao longa. Seu monólogo no lago é emocionante. Mesmo tendo outras tantas atuações muito mais dignas de um Oscar do que esta, este tipo de personagem lhe cai como uma luva e a estatueta foi muito bem entregue. E, embora Willians pareça repetir seu Prof. Keating de Sociedade dos Poetas Mortos, Sean tem algo que o difere dos demais "mestres" que vemos no cinema: uma vida despedaçada. Geralmente estes mentores cinematográficos parecem inabaláveis, íntegros e 100% corretos. Sean é fraco. Sábio, mas fraco. Ainda usa aliança, mesmo se passando dois anos de sua morte. A simples menção de seu nome é capaz de derrubar a intransponível compostura do analista. A relação entre ele e Will não é apenas de amigo ou de pai e filho, mas sim uma relação de espelhamento.
Irregularidade. Essa é a principal característica da direção de Gus Van Sant em Gênio Indomável. O início do filme é um tanto apressado, não preparando o terreno direito e apresentando os personagens de modo meio atropelado. Mas quando a personagem de Minnie Driver, é inserida na história como par romântico de Will, a trama cai num marasmo e parece abandonar a idéia de "gênio indomável" e vai fazendo de Will um personagem cada vez mais afável e o filme se torna uma historinha de amor melodramática.
Stellan Skarsgård, Minnie Driver, Ben Affleck, Casey Affleck e Cole Hauser formam um bom elenco de apoio, mas pouco acrescentam ao todo, cabendo a Affleck (o Ben) a maior participação, mesmo que rasa e pueril. Matt Damon se sai muito bem, mas é mesmo Robin Williams quem se destaca mesmo. Muito mais pelo imensurável carisma, é verdade, mas carima é essencial.
Ao final, a questão do caminho de Will, fica em aberto. Temos a impressão de que ele apenas abandonou tudo para ficar com a garota e que o maior beneficiado foi Sean. Faltou um certo trato no desfecho.
Assistir à Gênio Indomável é uma experiência prazerosa, mas não tão marcante como se propunha. É mais um daqueles filmes que tentam deixar uma lição de vida em cada fala, mas serve apenas como um (muito) bom passatempo.
Caro Cristian a filmografia toda de Van Sant é irregular, não enxergo nela 'aquela' obra-prima...
O que você falou faz sentido acho que ele não soube muito bem encerrar a história e o indomável acaba sendo domado...
Mais uma vez, belo texto...
Não consigo entender como diretores medianos (ou mesmo ruins) conseguem pegar bons projetos. Ás vezes dá certo, como Peter Jackson e seus Senhor Dos Anéis, mas geralmente dá merda. Valeu Gabriel. Tô Sempre de olho na tua página e em seus comentários, meu caro amigo!
Hehe. Pensei que era o único que achava que o romance foi prejudicial ao filme.
Não é não Gabriel. Pode acreditar....