Os primeiros dos três grandes faroestes que Monte Hellman realizou num curto espaço de tempo é um rápido passeio na garupa de dois vaqueiros ao longo de uma terra violenta. Pode-se resumir superficialmente assim. Mas Cavalgada No Vento trás uma complexidade curiosa ao observarmos sua estrutura e suas opções narrativas, ideológicas e estilísticas.
A história é claramente dividida em três partes precisas, porém conectadas por algum acontecimento chave para o desenrolar da trama. Primeiramente somos lançados em meio à um assalto violento do bando liderado por um Harry Dean Staton, sempre preciso, a uma diligência, e ao contrario do seu filme de horror A Besta Da Caverna Mal-Assombrada (Beast from Haunted Cave, 1959), Hellman logo consegue erguer uma atmosfera de perigo do oeste clássico. Os dois vaqueiros principais, Nicholson e Mitchell, surgem também num choque com a violência daquela terra, junto a um terceiro companheiro, aparece então um homem enforcada entre nós e eles, sentimos sua sensação, encaramos a mesma situação da mesma maneira e no mesmo momento.
A parte frenética do filme começa quando os vaqueiros encontram o bando de assaltante do início, sem saber de sua identidade se entendem, porém com desconfianças escondidas. A cena na noite em que os bandidos discutem dentro da cabana com ar superior enquanto os vaqueiros estão deitados no lado de fora, sob o céu, ao lado de plantas e areia e numa noite que exala a sensação de frio é um dos grandes momentos do cinema onde a diferença de posições de dois grupos é enfatizada de modo tão eficiente.
Depois desta mesma noite, indo direto ao ponto, na manha seguinte um grupo de oficiais da lei que perseguem o bando de Stanton alcança sua cabana e ali se inicia um tiroteio magistral entre três bandos que dura, do primeiro ao último disparo, mais de dez minutos. Antes deste tempo os vaqueiros de Nicholson e Mitchell fogem pelas montanhas após seu outro parceiro ser acertado, enquanto o bando de assaltantes é pego e executado na forca sem julgamento, a moda antiga dos faroestes clássicos.
A maneira como esta execução é feita, nos trás um pensamento. O faroeste de Hellman foi feito na metade da década de sessenta, nas vésperas do estabelecimento concreto da Nova-Hollywood. Mas antes disto ele já estava ali revigorando alguns ares do gênero, mesmo após Pistoleiros do Entardecer, de Sam Peckinpah. Talvez este filme tenha sido a primeiro western da nova safra americana em que anos mais tarde o próprio Peckinpah concretizaria com seus clássicos Meu ódio Será Tua Herança (1969) e Pat Garreth and Billy the Kid (1976), além de Clint Eastwood com todo seu revisionismo de Estranho Sem Nome (1973) e Josey Wales (1976). É possível ver a vontade do roteiro de Jack Nicholson e da direção de Hellman de se aproximar de uma nova fase, as características de seus personagens são incomuns para os protagonistas de uma historia do oeste, são vaqueiros comuns, que fogem do tiroteio, que não matam e que chocam-se com a violência, além de serem tidos como bandidos. É bonito ver isso, um gênero tão particular passando por uma clara transição.
O último bloco do filme é dado com a fuga dos dois vaqueiros até alcançarem uma família camponesa, formado por um pai, uma mãe e sua bela filha. Adentra-se então num ambiente caseiro e tranquilo, e por minutos saímos da selvageria. A narrativa se adapta, se torna lenta e calma, ainda que os dois homens em fuga mostrem seu lado ruim e sequestrem aquelas pessoas para se manterem seguros, como se fosse uma perda de valores. Após um momento de diálogos e um clima de perigo cercando, os oficiais perseguidores trazem consigo a violência que invade aquele ambiente deixando rastros sangrentos.
O final condiz com a jornada representada, um dos vaqueiros vai ao horizonte, a cavalo (na tradicional fotografia). Não é dado fim à perseguição, ela continuará, como se representasse um caminho de progresso para o próprio gênero, como se houvesse algo mais a ser feito. E foi! Até por que Jack Nicholson foi um dos grandes atores da geração que explodiu com a Nova-Hollywood e Hellman fez parte dos grandes diretores que não conseguiram alcançar à popularidade a longa data daqueles que surgiram em meados de 60. Ou seja, ambos, idealizadores da obra, tinham em mente a renovação. E a última imagem, após toda a perseguição do filme, trás um belo ar de "isso tudo não acaba por aqui".
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário