Por que não acho Django Livre (Django Unchained, EUA, 2012) um grande filme? A maior parte dos espectadores que lotaram as salas de exibição na estreia do mais recente filme de Quentin Tarantino vai discordar, mas avalio que Django é bastante irregular.
Resumindo, o longa conta a saga de um escravo que, dois anos antes da Guerra Civil Americana, ao se encontrar com um caçador de recompensas, consegue sua liberdade e vai, com a ajuda deste, tentar libertar sua amada. Não me parece um argumento exatamente original, mas eu contava com a criatividade do diretor e com a inclusão de reviravoltas típicas da jornada do herói para tornar tudo mais interessante. Essa expectativa foi, em parte, frustrada.
O filme é longo, tem 165 minutos, ou seja, duas horas e 45. Meia hora a menos na história que se arrastou em alguns pontos poderia resultar em um ritmo melhor. Aliás, o filme poderia acabar pouco depois da cena em que todos os protagonistas estão sentados à mesa para uma negociação. A referida sequencia é o ponto alto da narrativa depois da qual esperamos que tudo se resolva, mas há ainda uma cansativa espera que transforma a boa cena em um anticlímax. Em Bastardos Inglórios (Inglourious Basterds, EUA, 2009) Tarantino constrói e eleva o suspense de maneira semelhante, mas o desfecho é mais inteligente e cadenciado.
Adicionalmente, os tipos criados são rasos. O escravo injustiçado em busca de vingança (Jamie Foxx), o estrangeiro que traz soluções para o infortúnio (Christoph Waltz) e o fazendeiro ganancioso e cruel (Leonardo di Caprio). Não há um só personagem feminino cuja existência não se justifique em função dos masculinos. Se entre os homens a profundidade dos personagens pode ser descrita pelos epítetos acima, entre as mulheres é ainda pior: a mulher de Django (que não faz nada) e a irmã do fazendeiro (que, além de não fazer nada, tem um dos destinos mais reveladores do exagero estético do diretor).
Entretanto, há méritos. O trio Samuel L. Jackson, Leonardo Di Caprio e Christoph Waltz traz boas atuações. Stephen, o escravo de confiança, é o verdadeiro vilão do filme, uma criação brilhante de Jackson no estilo “lobo em pele de cordeiro”. Essa foi a ausência mais sentida por mim entre os indicados ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, não a de Di Caprio (também muito bem, por sinal). Waltz, embora repita um pouco o coronel Landa de Bastardos, também impressiona. Tarantino mostra desenvoltura com cortes, cores e movimentos de câmera, mas se destaca, realmente, pela trilha sonora.
Há alguns bons momentos, mas Django Livre não se fecha enquanto obra completa.
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