A maior ousadia de 007 - Operação Skyfall (Skyfall, Reino Unido, EUA, 2012), o 23º filme do agente secreto James Bond, está no diálogo abaixo, entre Bond e Raoul Silva, o bizarro antagonista magistralmente interpretado por Javier Barden. A conversa, tensa, engraçada e memorável, marca o primeiro encontro dos rivais.
Raoul Silva: (acariciando Bond) Há sempre uma primeira vez...
James Bond: (amarrado a uma cadeira) O que faz você pensar que essa é minha primeira vez?
Raoul Silva: (visivelmente surpreso e recuando) Mr. Bond?!?!?
Esta é uma cena que já entrou para história. Além de seus méritos artísticos, ela simplesmente insinua, por qualquer que seja a razão, que o espião 007 já teve relações com outro homem. Isso, para um personagem como Bond, um símbolo de masculinidade, não é pouca coisa. Em 50 anos de existência do personagem criado Ian Fleming e nos 22 filmes anteriores, esse assunto (a homo ou bissexualidade, caso não tenha ficado suficientemente claro) não foi sequer abordado em comentário sobre terceiros. Embora eu não tenha visto todos, estou quase certo de que esse reducionismo é verdadeiro. Em Skyfall, o espião britânico, impassível e sem pestanejar, dispara a frase acima. Até Raoul ficou assustado. Inclusive, esse talvez seja o único momento em que o vilão foi surpreendido em todo o longa. Alguns (haters) podem dizer que isso já é um dos sinais do iminente fim do mundo. Exatamente por isso escrevi esse texto antes de 21 de dezembro de 2012.
O estrondoso sucesso de crítica e público do filme mostra que, mesmo após tanto tempo, tantos atores, tantos bons filmes e um número bem maior de outros não tão bons, a franquia não está desgastada. Como visto no diálogo transcrito, ainda há muita coisa sobre o agente inglês que não foi dita. As bilheterias confirmam que a fórmula não caducou. Skyfall é a maior bilheteria da história do cinema do Reino Unido, superando, nada mais, nada menos, que Avatar (Avatar, EUA, Reino Unido, 2011), o filme que ostenta a maior arrecadação mundial de todos os tempos. Fora de seu país natal, também não faz feio e se mantém como um dos longas mais procurados. O filme já é o maior êxito comercial de sua distribuidora, a Sony Pictures.
Há quem diga que a mais recente aventura de 007 é uma das melhores da série. Só não avalio como A melhor porque não vi todas. Entretanto, é certamente o melhor desde que Pierce Brosman assumiu o papel título.
Recapitulemos:
007 Contra GoldenEye (GoldenEye, Reino Unido, EUA, 1995) - Muito bom
007 - O amanhã Nunca Morre (Tomorrow Never Dies, Reino Unido, EUA 1997) - Chatinho
007 - O Mundo não é Bastante (The World is not Enough, Reino Unido, EUA,1999) - Chatinho
007 - Um novo Dia para Morrer (Die Another Day, Reino Unido, EUA, 2002) - Bom, mas exagerado
007 - Cassino Royale (Cassino Royale, Reino Unido, EUA, 2006) - Bom
007 - Quantum of Solace (Quantum of Solace, Reuni Unido, EUA, 2008) - Chatinho
007 - Operação Skyfall (Skyfall, Reino Unido, EUA, 2012) - Ótimo
A tentativa de Sam Mendes, do oscarizado Beleza Americana (American Beaty, EUA, 1999) de dar um tom autoral ao 23º filme do agente secreto James Bond deu certo. O olhar do diretor está presente, entre outros vários momentos, na cena de perseguição e luta no arranha-céu de Xangai. Uma longa, bonita e escura sequência iluminada apenas por letreiros de neon. Além disso, o bom roteiro e a abordagem mais, digamos, local agradam. Embora passe por lugares como Turquia e China, grande parte da ação se passa no país sede do MI6 (o serviço secreto do Reino Unido). A cereja do bolo é o trio de atores protagonistas. Craig está confortável no papel de Bond; Judi Dentch, sempre ótima, brilha com o destaque que M, sua versão para a chefe o MI6, ganhou nesta produção e Javier Barden é um espetáculo à parte.
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