Sonhos Roubados é mais um longa que enquadra - se nos filmes de favela. Dirigido por Sandra Werneck, que fez Cazuza – O Tempo não para, sonhos roubados difere das grandes obras desse nosso subgênero, entre elas Cidade de Deus e Tropa de Elite, ao tirar de foca a violência e apostar nos seus personagens, em especial as três meninas que permeiam a trama.
Os Personagens de Sonhos Roubados são centrados em três figuras femininas, portanto o filme sai do eixo das balas de tropa de elite e preocupa-se em desenvolver suas personagens. Jessica (Nanda Costa) tem uma filha, e trabalha como garota de programa ainda que diga que não entrou nessa "vida", que faz apenas para sustentar-se. Entre as três, ela é a principal, a mais sincera. Sua personalidade bem como sua índole é definida desde o começo de forma que ela seja a pessoa mais independente do longa e a mais aprofundada. Sua relação com o avô, seu amor pela filha, consideração pela mãe e suas atitudes, até mesmo a relação com o preso, que ela terá no decorrer do filme apresentam-se de forma honesta. A segunda personagem é Sabrina (Kika Farias), gosta de poesia e tem um emprego, larga ele para ficar com um bandido, engravida e também trabalha como garota de programa. A terceira é Daiane (Amanda Diniz), 14 anos, assediada pelo tio, desprovida de pais, que busca em suas amigas ou na cabeleira Dolores (Marieta Severo) a coluna familiar a qual se sustentar.
Como um bom drama de favela nacional, o arco dramático das três é bastante denso. Existe em Jessica um conflito com Dona Jandira (Zezeh Barbosa), avó por parte de pai da filha de Jessica, que é evangélica e não gosta do “trabalho” dela. Jéssica tem uma mãe que morreu de HIV e também era garota de programa. Quanto a Sabrina, engravida de forma que o filme suscite a questão do aborto. Ambas têm que lidar com o fato de serem mães precoces. Já em Daiane, o assedio pelo tio e a possibilidade de ganhar dinheiro fácil vendendo seu corpo em detrimento de um ofício, além do desprezo do pai, são temas abordados no longa. Essas garotas não possuem perspectivas de futuro, apenas sonhos.
Curioso, ver que o filme mostra, mas não explora o lado negativo de suas vidas. Pelo contrário, carrega consigo o lado mais humano daquelas pessoas. Por exemplo: para que o relacionamento entre Jéssica e o prisioneiro Ricardo (MV Bill) funcione, o filme não cita seu crime cometido. Dolores permite que seu shampoo seja roubado, fruto de um sentimento de pena, talvez. Existe essa pureza nos personagens, que revela uma abordagem diferente do filme. Aqui eles não são frutos do meio que vivem, são donos de suas ações. É bonito, mas a forma como colocada essas ações parece deslocada e forçada.
Forçada, por que os diálogos são pobres, muitas vezes auto-explicativos, como se o espectador estivesse por fora daquela realidade. Alem disso as atuações no geral são fracas, vendo pelo lado de cidade de deus que usou jovens que nunca antes tinham atuado. As exceções são Nanda Costa que já atuou em novela antes e que carrega sua personagem com louvor; e Marieta Severo com sua habitual segurança. Kika Farias em sua primeira atuação no cinema já vinha de uma escola de teatro, mas não dá a densidade necessária à personagem, se bem que o roteiro não ajuda muito. Amanda Diniz que atuou no sitio do pica-pau amarelo, faz com que todas as suas cenas soem inverossímeis, justo a personagem que sofre a maior transformação. E Mv Bill não cola com o papel de bandido bom.
É um retrato social, que tem como panorama a favela, já banalizado pelas constantes produções. O filme escolhe mostrar a vida daquelas pessoas e só, deixando de lado uma crítica mais forte, vista em filmes como Ônibus 174 ou Tropa de Elite, mesmo que se dê através da violência. No fundo, o que se pode tirar dele? Não muita coisa, já que o filme é um grande déjà vu. É apenas mais um filme de favela, pequeno, modesto e sincero. Não caminha para um clímax, não apresenta um fim propriamente dito. Talvez seja essa a sua mensagem, a de que a vida continua, com ou sem sonhos.
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