No cinema de Nolan, o cérabro, aquele que pensa e reflete nunca foi bem vindo. No cinema de Nolan, sempre foi necessário atenção, não ao plano, mas à trama. Nolan alcançara seu ponto máximo em Memento, seu ponto de clivagem em Batman Begins, seu declínio em Inception. E, se isso não chega a ser de todo negativo, já que em meio a todos os artifícios de auto-flagelamento de seus espectadores, nós masoquistas da visão e do cérebro ainda encontramos um pouco de entretenimento, está muito longe de ser algo positivo, visto que Inception ratifica que mais um possível bom cineasta dos EUA não tem lá muita coisa pra mostrar, além de confusão e fórmulas nada originais. E ainda eu nem falei da famigerada trilha de Zimmer…
“A Origem” chegou como um arrasa-quarteirões do verão estadunidense, Nolan colocava na tela um projeto ambicioso, escondido a sete chaves e que vinha no respaldo de Batman – O Cavaleiro das Trevas o tão merecidamente elogiado filme que ganhara mais impacto por causa da atuação de Ledger. O filme fala de uma galera que rouba segredos do subconsciente das pessoas, e que quer fazer o roubo dos roubos, agora, enjetando uma idéia na mente do filho de um magnata. Estapafúrdio? Grandiloquënte? Sim. O cinema americano há muito vem precisando de ambição, sobretudo os blockbusters, como esse, para levar assíduos comedores de pipoca e degustadores de fórmulas clássicas do cinema em roupagens “alternativas”. Inception é mais um filme de golpe.
No encaminhar de tão complexa – para uns nem tanto – história, Nolan joga uma personagem-público – Ariadne (Ellen Page) – para nos ajudar na história. Nisso, uma hora de projeção é explicando o argumento da viagem idílica de Nolan; mais outra hora de ação envolvendo o golpe, passeando por locações em vários cantos do planeta – isso desde os primeiros 007 é algo latente aos blockbusters -; até o desfecho, onde se encontram as melhores cenas do filme, onde Nolan, finalmente, trabalha aquilo que de melhor se pode estrair de sua filmografia: o poder dos mais simples rastros de memória nas construções afetivas ( e isso tem uma relevância soberba em nossa sociedade cada vez mais caracterizada pelo esquecimento) e na (re)construção de uma personalidade para seu protagonista (esse foi o mote narrativo de Memento e dos dois Batman)
Mas, pra chegar a tais momentos interessantes, a gente já vai ter passado por um quebra-cabeças confuso, tentando a todo momento e das mais diferentes maneiras ser entendido-confundido mais ainda, em meio a trilha sonora vuvuzela-remember de Zimmer, que soa excessiva e repetitiva.
Não se sabe se Nolan pode melhorar, se piorar, vai dar saudades de sua obra-prima “Amnésia”.
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