Nome curioso e história também curiosa compõem o filme de 2008, que é a estréia de Matheus Nachtergaele na direção. O ator, que já mostrou talento de sobra atuando em filmes consagrados como “Central do Brasil” e “O Alto da Compadecida”, em “A festa...” só atua atrás das câmeras. O filme de Nachtergaele fez muito barulho e tornou-se divisor de opiniões pelo fato de ser inevitavelmente polêmico – o que o diretor já provavelmente esperava antes mesmo de lançá-lo. A fita ganhou Kikitos de ouro em Gramado, prêmios no Festival do Rio e outros prêmios em demais partes do globo.
O filme apresenta ‘Santinho’, jovem que é considerado “líder espiritual” numa comunidade ribeirinha do Amazonas, que comemora todos os anos a “Festa da menina morta” (festa que dá o titulo do filme). A festa faz referência ao dito “milagre” do Santinho, que recebera, quando criança, os trapos do vestido de uma menina que nunca fora encontrada. O ápice da festa é quando o Santinho faz as esperadas “revelações” da menina, após a cerimônia.
O diretor se utiliza de um prisma um tanto visceral no tratamento do seu filme. Também usa uma câmera inquieta sobre os personagens em dados momentos, e em outros deixa a câmera mais sossegada - só observando. O diretor aparenta saber manusear a câmera e com ela captar imagens. Parece se sentir à vontade na direção do filme, que porém aparenta conter apenas alguns momentos notáveis – como o competente ‘plano seqüência’ de um jovem dançando na festa.
Percebe-se possibilidades interessantes de discussão - alienação religiosa, fé cega, isolamento, alegorias culturais e outras -, mas que, infelismente, não são devidamente aproveitadas, mas deixadas à esmo, o que também torna a fita frustrada.
Então, apesar da boa fotografia, da interessante direção de arte e de um ou outro acerto, na maior parte do tempo fica a sensação de que o que é visto não passa da pretensão de se experimentar e/ou causar forte impacto. Não parece ser uma fita fácil de assistir e pode ser até ‘indigesta’.
Em resumo, o filme se lambuza com o cinema experimental, mas abusa. Mostra-se extremamente pretensioso, demasiadamente carregado e contendo faltas do roteiro, além de afetações teatrais. Do elenco, Daniel de Oliveira, que interpreta “Santinho”, se esforça, mas exagera e passa do tom - afetado pode ser um adjetivo relevante neste caso. Há alguns outros bons destaques, entretanto, no elenco coadjuvante, mas que acabam sendo embaçados pelos excessos da produção.
Há então uma série de exageros na direção estreante - parece até que Nachtergaele descobriu um brinquedo novo, manuseou bem a câmera, mas se empolgou demais. Na maior parte do tempo, o que é visto na tela revela-se como nada mais do que gratuito ou de gosto duvidoso. Há momentos que são movidos por uma possível (ou improvável) intenção de representar alguma alegoria lírica, ou onirica (Watever), mas só conseguem pender para o ‘aguado’ ou dispensável.
Certos momentos já descartam dúvidas e não passam de pretensiosismos carregados – a cena de incesto, é forçosa, desnecessária e não consegue fugir do mero grotesco. O resultado geral, infelizmente, é destemperado e simplesmente desagradável.
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