Melissa Leo surpreende e entrega ao público uma atuação simplesmente brilhante, dando força ao filme que se tornou um dos mais poderosos e inteligentes de 2008.
Há muito tempo não se via um filme tão bom. E olha que começar uma crítica expondo a sua opinião tão escancaradamente não é uma escolha correta. Acontece que não me faltam elogios a serem atribuídos a Rio Congelado, um filme que não é bom por seu todo, mas sim pela surpresa, pela agradável e magnífica sensação de se ver algo que infelizmente passou despercebido pelo público, mas é de uma sensibilidade, de uma pureza e de uma inteligência que há muito tempo não se via no cinema. Não estou falando de uma produção luxuosa, de tema polêmico aplicado com sentimentalismos, nem um filme com efeitos especiais arrebatadores. Estou falando de um filme que emociona, de fato. Um filme cuja força das atuações, da direção e do roteiro nunca estiveram tão unidos para formar essa verdadeira obra rara. "Frozen River" é muito mais que possa imaginar. Muito mesmo.
Toda essa admiração recente deve-se ao fato de que o filme não era daqueles que prometiam mil e uma maravilhas, de jeito nenhum. O longa dirigido por Courtney Hunt parecia mais um filme independente, que abordava mais um tema diferente, o mesmo que tanto já fora usado nos cinemas, mas nunca tão bem retratado, da meneira mais bela e sensível possível. Afinal, estamos falando de um filme cuja força é exercida por mulheres, mas nunca o "sexo frágil" nunca esteve tão poderoso. A direção de Courtney Hunt, além de segura, é inteligente. Ainda bem que uma mulher ficou a cargo da direção do filme, pois aposto que se fosse um homem o diretor, o longa nunca sairia da maneira que saiu. E Hunt sabe muito bem dirigir o elenco de seus filmes (na verdade, esse é o primeiro longa-metragem dirigido por ela). Melissa Leo serve de alicerce para o filme como um todo. Sua atuação não é menos que fantástica, um verdadeiro show à parte e uma sensação maravilhosa de ver essa mulher, sem plásticas, botox nem qualquer outro tipo de máscara ou plástico no rosto, arrasar incessantemente em uma performance tão verdadeira que chega a parecer mentira. Exagero? De maneira alguma! Interpretação simples tem de monte por aí, quero ver é fazer igual a Leo, carregando emoção nos olhos e em cada gesto.
Felizmente, a atriz foi indicada ao Oscar e juro, deveria ter vencido. Uma atuação gigante perto do pouco sucesso que ela faz no cinema e em Hollywood, que prefere fuçar a vida de bonitões e gostosonas do que dar atenção aqueles que de fato merecem por seu talento. Enfim, nada mais a comentar a respeito de Melissa Leo, que depois de tanta bajulação sem exageros, possa resumir em somente uma palavra tudo o que sua atuação diz por ela: grande.
O roteiro de 'Rio Congelado' é magnífico igualmente. A história trata-se de um tema ainda que polêmico, mas não tão bem explorado pela mídia internacional, o tráfico de imigrantes ilegais do Canadá para os Estados Unidos, cujo trajeto passa pelo rio congelado St. Lawrence, ao qual o título do filme se refere. Melissa Leo faz Ray Eddy, uma mulher que após ser abandonada pelo marido, luta como pode para sobreviver e sustentar seus dois filhos. Um dia, seu caminho cruza com o de Lila Littlewolf, uma descendente de índios Mohawk. As duas criam um relacionamento que nem de perto chega a ser uma amizade , mas sim de negócios. Enquanto Ray ganha uma miséria em um supermercado, ela vê no tráfico de imigrantes uma boa saída, ainda que perigosa, para conseguir o dinheiro que seu marido fujão perdeu em apostas. As duas logo vão se juntar então, e trabalhar juntas, para depois terem desfecho impressionante. O roteiro aliás tem muito disso, situações inacreditáveis, com cenas que nos fazem muitas vezes perder o fôlego e prestar ainda mais atenção em cada diálogo e movimento das personagens.
Emocionante, deslumbrante. Uma singela surpresa, que apesar de seus defeitos típicos de um filme dirigido por uma profissional iniciante, tem a sua beleza não no fenótipo, mas no interior de cada personagem. Um filme que mostra as mulheres da maneira mais bela e sensível que eu já vi, mostrando os instintos de mãe, a luta para sobreviver, o sustento da família e da casa, a falta que sente dos seus quando está longe e da beleza, da sensibilidade e da fragilidade, que agoniza no fundo de suas almas. Um verdadeiro primor de direção, roteiro e atuações, com o destaque a parte, a grandiosa Melissa Leo. Aplausos.
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