As atenções da crítica e da mídia em relação aos filmes de Shyamalan, se desdobraram com o tempo, sempre esperando outro sucesso com uma estória inesperada e criativa como em seu bombástico “O sexto sentido”.
Eu, particularmente, não curto muito as películas dele. Não tenho paciência nem sensibilidade suficiente para me contentar em interpretar suas entrelinhas.
Seus ótimos roteiros (não nego) se perdem por faltar agilidade em sua composição. Inclusive, perdem mais por limitar tanto o que visualmente devia-se mostrar. Está certo que é uma peculiaridade do diretor, mas não me atrai.
O último feito de Shyamalan chama-se "Fim dos Tempos", protagonizado pelo sem sal Mark Walberg ( "Max Payne") e a novata e atualmente requisitada Zooey Deschanel ("Sim senhor!").
Como eu já esperava, tratando-se de uma película de Shyamalan, o filme é lento e com poucos recursos visuais para assustar. Destaco isso por tratar-se de um filme classificado como suspense.
Apenas diálogos não são suficientes para substituir a ação de um filme como insiste o diretor indiano. Ainda mais nesse longa em que apresentou seus diálogos mais fracos.
Porém, de todos os seus filmes ( com exceção de “O sexto sentido”), esse conseguiu ser o mais ousado. Tem mais ritmo, mais mortes e mais cenas violentas. Nada em excesso, mas o suficiente para não se restringir à narrativa monótona e extensa como em "A Dama na Água" e "O Corpo Fechado".
O filme aborda uma súbita crise mundial invisível que está atingindo mortalmente as pessoas.
A especulação na mídia, no governo, volta-se a um possível ataque terrorista, com um vírus que controla e induz as pessoas a se matarem.
As evacuações nas cidades dos EUA iniciam após o agravamento da situação. Sem saberem ao exato para onde irão, Elliot (Walberg) e Alma (Deschanel), um casal em crise conjugal, foge esperando achar um lugar seguro, acompanhado de Jess, uma garotinha de 8 anos, filha de um amigo que os acompanhavam. Esse amigo, Julian, que tomou outra rota para procurar a esposa que está em uma localidade possivelmente já atingida pela crise viral, pressentia o pior ao buscar a amada, por isso deixou a filha sobre a guarda de pessoas confiáveis.
Aos poucos os personagens centrais começam a crer que as possíveis mortes estão sendo induzidas pela natureza que, os reconhece como uma ameaça e os "infecta" através do vento. Evidências não faltam para que passem a cogitar essa idéia.
O importante é que mesmo sendo a razão mais provável, a tese da natureza e seu comportamento inóspito, em nenhum momento é ratificada pelo roteiro. Com essa interrogação, fica mais intrigante o “acontecimento”. Os protagonistas até ficam a mercê da ventania e nada acontece. Ainda assim, senti falta de ver uma razão concreta para os suicídios "voluntários" em massa.
A tensão toma conta da trama de forma equilibrada e progressiva. Quanto aos efeitos especiais, estão bem verossímeis. E a fotografia é a maior responsável pela beleza do filme.
Algumas das cenas em que presenciamos os suicídios - os da construção civil e os do engarrafamento, por exemplo - foram captadas sob um eficiente ângulo, privilegiando o espectador, em que transmite toda a gravidade e iminência do momento. Porém, a morte dos dois jovens que acompanhou o casal por algumas horas, sob a circunstância distinta em que aconteceu, foi desnecessária e sensacionalista.
O suspense aqui é mesclado com um leve drama romantizado entre Mark e Zooey que, apesar de duvidosos pra mim como atores, possuem certa química no filme.
Falando em interpretação, estranhei as atuações; não estão tão estruturadas como costumamos ver em filmes de Shyamalan.
Zooey, apesar de conseguir transmitir só meias emoções, consegue levar o papel numa boa, mas Mark parece ficar desconcertado quando não está com uma arma na mão. Suas feições são cômicas ao tentar transpassar desespero (destaque para uma cena de close dele em pleno ataque de pânico).
Após ver Bruce Willis e Mel Gibson, dirigidos por Shyamalan, Mark foi uma decepção! Até as cenas mais risíveis ficaram pra ele como, a de conversar com um vaso de plantas artificial.
Por incrível que pareça, John Leguizamo (o eterno Peste da Sessão da Tarde) que eu considerava canastrão, conseguiu me convencer com seu personagem mais do que qualquer outro nesta projeção.
Ashlyn Sanchez (tão fofa em "Crash - No limite") é descartável aqui. Como é praxe a presença de crianças em filmes do gênero, parece que à qualquer custo a garotinha chorosa tinha que estar presente, independente de sua importância no enredo.
Bom, é isso... o filme entrete, segura a atenção do espectador, é interessante, mas não o suficiente para quem o dirigiu, por isso não se pode classificar como seu novo marco.
Entretanto, concluo que, mesmo sem o típico final apoteótico de Shyamalan, o filme é bom, e agradará mais se for assistido sem expectativa.
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