Não quero andar como uma mulher, mas como um homem fingindo ser uma mulher." Essa foi a frase que o ator Jack Lemmon disse enquanto gravava as cenas de Quanto Mais Quente Melhor, filme dirigido por Billy Wilder e considerado a melhor comédia de todos os tempos.
O American Film Institute já disse. A revista Empire já disse. A revista francesa Cahiers du Cinéma já disse. Os mais respeitados e conceituados críticos do mundo já cansaram de repetir que não existe comédia melhor que 'Quanto Mais Quente Melhor', filme produzido, dirigido e escrito pelo diretor americano Billy Wilder, responsável pelos ótimos e inesquecíveis Crepúsculo dos Deuses e Se Meu Apartamento Falasse. Contando com um elenco ilustre, o filme do final da década de 50 provocou polêmica e acima de tudo, muitas, mas muitas risadas, afinal de contas estamos falando de um filme cujo tema é justamente preparado para fazer um espectador acabar de ver o filme e sair com dor na barriga de tanto rir.
A história, baseada nas idealizações de M. Logan e Robert Thoeren e adaptada para o cinema pelas mãos de Wilder e I.A.L Diamond conta a divertida e inteligentíssima corrida do saxofonista Joe e do contrabaixista Jerry para longe de Chicago, onde foram jurados de morte depois de presenciarem acidentalmente o real Massacre do Dia de São Valentim, onde a máfia ítalo-americana executou sete pessoas em uma garagem. Para fugir dos gansgters, a dupla é obrigada a se travestir e embarcar para Miami em um trem, junto a um grupo musical feminino. Lá eles conhecem Sugar Kane(Marilyn Monroe), uma mulher de beleza estonteante, que logo vira amiga dos farsantes. Entre sacadas de esperteza pura, o roteiro comete somente o erro de ser previsível demais em certas passagens, especialmente nas cenas iniciais, mas nada que atrapalhe o andamento e a diversão total do público, que não economiza risadas ao ver as expressões faciais que os atores John Lemmon e Tony Curtis fazem durante o filme.
Falando neles, não tem como escapar do clichê e dizer que os dois estão absolutamente soberbos nos papeis duplos e no caso de Curtis, triplo. Ele interpreta Joe, Josephine e ao mesmo tempo um milionário, que finge ser dono de uma empresa de petróleo para impressar a tal Sugar, ao qual apaixonou-se. Lemmon, no entanto, interpreta Jerry e Daphne, e é com certeza, o melhor do elenco, com suas caretas e risadas contagiantes. O papel de Sugar ficou a cargo de Marilyn Monroe, mas ela não era a opção ideal para Wilder, e sim Mitzi Gaynor, que recusou o papel, assim como Frank Sinatra, que era o primeiro da lista do diretor para interpretar o papel de Jerry/Daphne, não compareceu à reunião do elenco e perdeu o personagem para Jack Lemmon. O elenco por um todo atua de maneira fantástica, especialmente a dupla, a qual não resistimos e damos ótimas risadas. Pouca gente sabe, mas Tony Curtis fora dublado em praticamente todas as cenas nas quais ele teria que afinar sua voz, enquanto dava luz ao papel de Josephine. Quem emprestou sua voz para o ator foi Paul Free.
Não há muito para se falar de 'Quanto Mais Quente Melhor', uma vez que estragaria toda a diversão de quem lê comentário, caso contasse algum detalhe sequer. Não se engane, o roteiro prepara boas surpresas para o espectador, mas em alguns momentos, eles acabam sendo previsíveis o suficiente para termos a impressão de que já vimos isso em algum lugar, mas como não poderia deixar de ser, esse filme era uma novidade sem tamanho para a época, e causou polêmica por onde passou, especialmente sendo motivo para discussões religiosas, que diziam que mostrar no cinema cenas com homens travestidos era incentivar o mal uso do comportamento de cada pessoa e que os vestidos usados pelos atores no filme eram no mínimo, obcenos.
A questão é que não foram somente acerca da exibição de "Some Like It Hot" nos cinemas que causou discussões e polêmicas, mas também em relação aos bastidores, que renderam algumas dores de cabeça para o diretor Billy Wilder, dores que resumiam ao fato de ter Marilyn Monroe dentro do projeto. São lendas, mas embora tudo indique que seja a mais pura e nua verdade. O fato é que segundo o próprio diretor, não haveriam tantos problemas na produção se Monroe não estivesse vinculada a ela. A atriz frequentimente possia lapdos de memória e simplesmente não conseguia falar simples palavras como It's me, Sugar", pelas quais ela trocava a ordem e como resultado, era comum vir "It's Sugar, me". Para rodar essa simples parte de um diálogo, Wilder teve que escrever a frase que a triz deveria falar em um quadro negro. Foram necessárias 47 tomadas até que Monroe conseguisse acertar o diálogo. Mas ela conseguiu demorar mais ainda em uma outra frase: Where's the bourbon?", na qual ela trocava incessantemente a ordem das palavras ou até mesmo alterava por outras. Conforme Wilder disse, ele quase sofreu um colapso nervoso, pois fora obrigado a escrever a frase em uma das gavetas na qual ela deveria pegar o bendito uísque. Mas como mesmo assim, ela ainda se confundia, ele resolveu escrever o diálogo em bilhetinhos e colocá-los em todas as gavetas, para que conseguisse rodar o filme, finalmente. Talvez foi a partir daí que a pobre Marilyn Monroe passou a ser chamada do mesmo apelido que acompanhou-a até a sua morte, três anos depois.
Entre as cômicas e irrestíveis cenas do filme, a do tango é uma das que mais fazem divertir o espectador, enquanto Daphne dança com uma rosa na boca com o personagem de Joe E. Brown, ou na cena em que ele (ou ela) avisa que vai se casar com o milionário, mesmo sabendo que é um homem. Em um teste de exibição do filme, no qual teve a participação da platéia, essa cena foi alvo d etantas risadas que mal dava-se para acompanhar os diálogos seguintes, portanto Wilder resolveu remilar a cena e acrescentar mais uma parte que Daphne balança os chocalhos, para dar tempo da platéia rir a vontade.
Quanto Mais Quente Melhor é um filme imperdível, ainda mais para quem é cinéfilo. Um filme engrçado, uma comédia inteligente como poucas, muito bem escrita, interpretada e dirigida por um dos mestres do cinema Billy Wilder. Perder é pecado.
"Nobody's perfect"
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