Vida e morte. Começo e fim.
Em tempos de um cinema mais inventivo, a frente de sua época onde vemos estórias sendo contadas de trás para frente, onde vemos narrativas nem um pouco lineares, encontramos O Curioso Caso de Benjamin Button, uma ode a vida e a morte resumidos numa belíssima estória de amor a moda antiga, predestinada desde o começo a não ter um final feliz.
Desde o começo ficamos sabendo qual será o desfecho da estória de amor de Benjamin e Daisy, mas ainda assim a cada cena que se segue, ficamos mais curiosos com o rumo que o caso de Benjamin vai tomar.
Trocamos Alabama por New Orleans,Robert Zemechis por David Fincher, Tom Hanks por Brad Pitt e o que temos é um novo Forrest Gump, perfeitamente moldado para uma nova geração de platéia acostumada a narrativas viajantes no tempo e espaço.
New Orleans está brilhantemente retratada no filme, Brad Pitt não deve nada a Tom Hanks com seu Benjamin; da infância à velhice ou da velhice à infância. Mas é David Fincher que se destaca, reinventando-se como diretor de uma fábula deliciosa de se ver, envolvente e que passa tão rápido quanto a vida de Benjamin Button - nem percebe-se suas quase três horas de duração. Fincher já havia demosntrado seu apuro técnico em filmes menores como O Quarto do Pânico e Zodíaco, mas é com este filme que ele redefine o uso da tecnologia no cinema. Exageros a parte, chega ser impressionante os semblantes dos personagens centrais em sua juventude e velhice, que a certa altura parece que estamos diante de um Brad Pitt em começo de carreira, e uma alva e jovial Cate Blanchet e em outro momento nos deparamos com uma senhora debilitada em uma cama de hospital exibindo suas marcas do tempo, ou mesmo uma criança de sete anos num corpo de um senhor de oitenta anos.
Também muito bem empregado os flash backs em preto e branco para contar pequenas subtramas como a do velhinho atingido por um raio sete vezes, numa explícita relação com o clássico Forrest Gump, onde o personagem central caminha pela vida testemunhando fatos históricos da humanidade.
David não erra a mão nem quando o sentimentalismo tem que estar presente, e arranca lágrimas sem dó da platéia quando necessário em várias das passagens mais sinceras e bonitas do ciinema atual. A cena de Benjamin e seu pai nas docas é pura emoção e lirismo, e nem é preciso uma linha sequer de diálogo.
E não desaponta nem a platéia acelerada, moderna, num súbito momento Corra Lola, corra do filme, quando David explica o ''pequeno'' acontecimento que mudou a maneira de Daisy enxergar a vida, numa das melhores sequências do filme em minha opinião.
Para quem conhece o trabalho de David Fincher, não haverá desapontamento. A reunião do diretor com seu alterego Brad Pitt veio no momento certo, com a estória certa, embora não acredite que a Academia vá premiar nenhum dos dois. Não por falta de merecimento, mas mais porque seus concorrentes tem apelo mais significativo para os votantes.
Cate Blanchet encanta mais pela beleza do que pela sua atuação automática mas não compromete seus companheiros de cena nem sua personagem.
Quem rouba a cena mesmo é Taraji P. Henson como a mãe de Benjamin; a única concorrente capaz de arrancar o segundo oscar das mãos de Marisa Tomei.
Um grande filme, uma grande estória em que não importa o começo nem o fim, e sim a grandiosa trajetória dessa estória de amor fantasiosa mas que ensina tudo o que você queria saber sobre amor, vida e morte.
Bom filme!
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