Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Apesar do silêncio absoluto, o filme é marcado por uma magistral atuação de Joana D'Arc.

8,5

São muitos os mitos e histórias que cercam a produção do filme “O Martírio de Joana D´Arc”, obra do cineasta dinamarquês Carl Theodor Dreyer. Reza a lenda que todos os negativos do filme foram perdidos, e apenas um rolo regular foi achado. Essa preciosidade se encontrava no porão de um hospício da Dinamarca. 

Vários grandes diretores já narraram a história Joana D'Arc: George Meliés, Robert Bresson, Rosselini são alguns deles. Recentemente Luc Besson idealizou um filme bem famoso sobre a donzela de Orléans. Vários grandes filmes, mas nada que se compare ao filme de Dreyer. Motivo? A belíssima e inesquecível atuação de Maria Falconetti, e a sensibilidade imposta pelo diretor, conhecido como o "o cineasta da vida interior".

Todos os filmes de Dreyer, basearam-se em obras de ficção ou peças teatrais, exceto “O Martírio de Joana d'Arc” que foi inspirado nos manuscritos oficiais do julgamento. É uma narração como nunca vista da jovem religiosa que enfrentou a tudo e a todos, desde teólogos ortodoxos, poderosos juízes e até grandes exércitos e batalhas. Além da belíssima atuação de Falconetti, outro grande destaque do filme é a fotografia exuberante de Rudolph Maté, o mesmo que comandou a câmera de “O Gabinete do Dr. Caligari” (1920) filme de Robert Wiene e obra inicial do expressionismo alemão.

O grande mérito de Maté foi de ter feito “um filme de closes”, algo que com certeza foi inspirado em outro filme do expressionismo alemão: Haxan - A Feitiçaria Através dos Tempos (1922), um pseudo-documentário sobre bruxaria. Essa “câmera de closes” se enquadrou muito bem ao proposto por Dreyer, já que ele utilizou na direção de atores, métodos que nos ligam a escola britânica, dando muita ênfase nos detalhes dos rostos, isto é, a expressão da máscara, o controle absoluto sobre a musculatura facial.

Falconetti disse que Dreyer “filmava coberto por anteparos, para que ninguém me visse e nada me distraísse a atenção do que fazia. Acabada a cena, recolhia-me a uma casa de campo a que só ele tinha ingresso. Falava-me constantemente, incutindo-me a idéia da obra que queria realizar, era-lhe uma idéia fixa''. Como já dito, a atuação da atriz é impressionante, um olhar triste e comovente, belo e pungente. Apesar do aprisionamento imposto, outra lenda do filme é que Falconetti era totalmente apaixonada pelo diretor.

O filme é um pouco pesado, são 82 minutos de silêncio completo, o crítico e fundador da Cahiers du Cinema, André Bazin acreditava que Dreyer teria melhor resultado se pudesse ter utilizado o som no filme. O filme pode ser divido em três partes: julgamento, prisão e a cena do incineramento. O ato final do fogo com certeza é um dos grandes momentos do cinema mudo, cena magistralmente filmada, chega a ser perturbador o clima e tudo que o cerca. A partir da cena final, fica evidente a admiração de Dreyer pela pessoa de Joana D´Arc.

Vale ressaltar que a heroína francesa fora canonizada pelo papa Bento XV apenas oito anos antes do filme ter sido concluído e em 1922 Joana foi declarada padroeira de França. Um grande nome da história que merecidamente possui várias grandes homenagens da 7ª Arte. Se existe uma pessoa que me faz lembrar a figura de Joana, essa não é Milla Jovovich, mas sim Renée Maria Falconetti, que na sua estréia e única interpretação nas telonas, consegue entrar para a história do cinema como uma das mais belas atuações, usando quase que simplesmente suas expressões faciais.

Comentários (0)

Faça login para comentar.