Diretor centenário, autor de um currículo respeitável, de muitos filmes bons.
Manoel Cândido Pinto de Oliveira nasceu no dia 12 de dezembro de 1908. Aos cem anos, é considerado o mais velho cineasta em atividade no mundo. Sua carreira, de 50 filmes, é marcada pela história, filosofia, memória e, como não poderia deixar de ser nos últimos filmes, pelo tema da morte. Quando fala de Portugal, refere-se saudosísticamente ao chamado Quinto Império, ou seja, ao mito de que nossa matriz, depois dos gregos, persas, romanos e egípcios, seria o quinto povo a dominar a terra, na época das Grandes Navegações, na qual Portugal saiu na frente e fracassou miseravelmente.
Sua insistência no passado glorioso de Portugal, sua crítica à sociedade contemporânea e aos valores consumistas e o catolicismo arraigado deram ao cineasta o apelido de ''velhinho reaça'', principalmente entre os críticos do diretor, que não vêem nada demais em seus filmes de baixo orçamento, em geral toscos na forma, mas que fazem a admiração de muitos admiradores.
Dentre suas obras melhores e mais conhecidas estão Porto da Minha Infância, Volta para Casa, O Princípio da Incerteza, a bela viagem histórica entre os portos da Europa que termina de maneira trágica, o belo Inquietude, Viagem ao Princípio do Mundo (Prêmio da Crítica em Veneza) e Non, ou a Vã Glória de Mandar, para muitos seu melhor trabalho.
Dentre as obras polêmicas, o musical Os Canibais, o entediante A Carta (Prêmio do Júri em Cannes) e os insuportáveis O Quinto Império (uma especulação sobre o desaparecimento do rei D. Sebastião) e Palavra e Utopia, passado em parte no Brasil, uma espécie de biografia do Padre Antonio Vieira, ''o imperador da língua'', com Lima Duarte no papel do padre na terceira parte da obra, já idoso, passado no meio dos índios catequizados pelos jesuitas.
Ele mesmo estudou num colégio jesuíta, na cidade do Porto. Vindo de uma família industrial de poses, teve educação esmerada. Interessado pelas artes desde a tenra idade, como ator participou do primeiro filme falado português, A Canção de Lisboa, de 1933. Dois anos antes, seu pai lhe compra uma câmera e ele filma seu primeiro título, Douro, documentário mudo sobre a relação dos ribeirinhos com o rio em questão.
Seu primeiro longa foi em 1942, Aniki Bobo, inspirado nos neorealistas italianos. O diretor da início assim a sua extensa carreira, que se desenrola com financiamento estatal, em plena ditadura salazarista, fazendo filmes de cunho católico e nacionalista. Ao adaptar Amor de Perdição (1978), de Camilo Castelo Branco, clássico do romantismo português, conseguiu seu primeiro e talvez único sucesso de bilheteria (um fenômeno, pelas suas três horas de duração).
O sucesso da adaptação literária fará o cineasta se dedicar com afinco à filmar livros, como o autor católico Paul Claudel (O Sapato de Satã) e Agustina Bessa-Luís (da qual adaptou cinco obras) até Non, ou a Vã Glória de Mandar, em 1990, que, junto com O Vale de Abraão (1993), conquistou parte da crítica e respeito internacional, pela vasta cultura e humanismo cativante. Começa então a fazer filmes mais ''internacionais''. Em 1995, filmará O Convento com John Malkovich e Catherine Deneuve, filmes muito criticados no pais natal, desprezados pelo grande público, mas adorados pela crítica, como a lazarenta continuação de A Bela da Tarde (Belle de Jour), de Luis Buñuel, intitulada Sempre Bela.
Em 2008, nos seus 100 anos, venceu uma Palma de Ouro, em Cannes, pelo conjunto da carreira.