O homem contemporâneo morrendo ao lado de seu ancestral. Evolução? que evolução? qual o papel do Homem na sociedade além de viver e morrer? A eterna e amarga continuidade. A eterna busca. A eterna não-existência.
Evolução. Morte. Evolução. Morte. Eterna saga. Dos macacos à Julio César, de Lafayette à Dominique Strauss-Kahn. Desde sempre, o homem necessita da mulher. ''Why?''. Porque ela sempre é tudo o que ele rejeita. As pequenas coisas, as conversas banais que ele não suporta, o olhar sensível que ele precisa. Linha tênue entre a necessidade, o sentimento. A mulher aqui ama, mas também estupra. O homem a admira sempre à distância, o tempo todo, pois ainda não está preparado para entendê-la, estudá-la. Ela vê nele o instinto animalesco, num coçar no corpo, na forma como age e olha. Ela vê o animal-homem. Ela vê nele um reprodutor. Ele vive em meio aos ratos, mas não liga. Ela se enoja. O homem vê seus seios crescerem, mas porque não enxerga sua barriga? ''Why?''
''As civilizações desapareceram. Mas os ratos permanecem.''
O filme de Ferreri transcorre até sua última cena num embate que estamos fadados a vivenciar: a guerra do sexos. O homem em conflito com o seu meio. A mulher sempre incompleta. Em dado momento uma personagem diz: ''Porque temos que aguentar esse babaca?''. A frase que à princípio parece só mais uma, tem grande valor. É um grito engasgado que a maioria tem medo de soltar. Mas Ferreri, cruelmente irônico, mostra a ''utilidade'' do animal-homem logo na cena seguinte. O galo está no galinheiro, seriam elas então, meras galinhas à espera de seus ovos? O eterno reducionismo mútuo. Evolução, pra que te quero.
''Mas eu sou, sobretudo, carnívoro ...''
César e Kennedy, Nero e Nixon. Todos carnívoros. Todos mortos. Com a idade nada muda, apenas há uma aproximação natural com o fim. Mas o meio ainda o incomoda. O homem ainda necessita da mulher. Mas a mulher, já não enxerga o homem de sua faixa etária. Ela necessita de um toque jovial, diferente do habitual. Seria ela egoísta? os homens não fazem o mesmo?. Na contramão da sociedade moderna, o personagem de Mastroianni anda de costas, quase que protestando silenciosamente contra o rumo que às ''coisas'' tomaram. Usa seu chapéu orgulhoso. Para mulheres, entrega flores. Fala sobre comunismo com propriedade. Ele já é um homem sem lugar no mundo. Chora sua própria solidão sem perceber. Luigi é o retrato figurado do homem que não perpetuou sua existência na Terra. Sem Mulher, sem filhos. Em seu testamento, um macaco. Seu anarquismo parece falido, ele não se conforma com o retrato da história: ''Deixem as coisas que aconteceram para trás. Tudo tem que ser esquecido''. Os museus são seu pior inimigo. O retrato do homem pra ele é simplesmente uma pessoa sem face, que não deve ter memórias.
''O que pensa sobre o matrimônio?
''Não me interessa, absolutamente.''
Ferreri joga seu personagem à paternidade. Mas estaria ele preparado pra tal responsabilidade quando o seu próprio lugar no mundo é um incógnita?. Ele ainda é puro instinto, não parece estar preparado a dar continuidade a uma espécie que talvez ele nunca venha a compreender. Ele sabe que quando morrer, seu semelhante sofrerá a mesma inconstância, a perpétua dúvida, ''Why?''. Porque colocar alguém num mundo assim?. Ferreri o tempo todo expõe a morte do Homem. Seja num personagem que espera sua morte no sofá, ou n'outro que, já prevendo-a, usa o traje com o qual deseja ser enterrado quando morrer. ''Quando'', não ''se''. A realidade pra eles é cotidiana, onde não há escapatória, nem forma de driblar. Quando acontecer, aconteceu. Ponto. Estaria assim, o Homem tão distante do neandertal? A cena final, é ironicamente, o ''Why?'' que Ferreri nos proporciona sem um pingo de vontade de nos dar respostas concretas.
''Olhe pra si mesmo. Isto é o que você é. Não é uma besta. Não é um Homem. É um engano da criação. Um ser incompleto. A mais incômoda imagem da existência.''
A incômoda imagem da existência queima junto à outras civilizações. Versões de si mesmo que eternamente perecerão.
Belo texto, Nilmar. Um filmaço mesmo do Ferreri, com a dupla principal inspirada.
Valeu Chico. Esse filme questiona tanto ... Ferreri merecia mais atenção.
Putzzz sumiu minha nota e lupinha.. minha memória é muito ruim e eu não lembro bem visão que tive sobre o filme.. que droga!! 😢
Lembro de ter achado alguns aspectos interessantes, mas não lembro quais.