Diferente do que vemos por aí, o objetivo dessa obra não era bilheteria aos borbotões. À exemplo: o filme O Turista (2010), protagonizados por ninguém menos que Johnny Depp e Angelina Jolie, ficou no primeiro lugar por um bom tempo – até demais – no “top bilheterias”. Pode ser até um pouco divertido, mas é sabido que o mérito é todo do elenco. O que eu quis dizer com tudo isso é que Jarmusch não estava nem aí para isso e é assim que são feitos os bons filmes. O mesmo Johnny Depp protagonizou Dead Man e, garanto a vocês, que se dependesse da bilheteria deste filme, o diretor passava fome. Mas então, o que leva alguém a assisti-lo?
Há filmes e mais filmes. Esse não é mais um. Não se pode ser muito direto para falar desse longa, pois essa obra do diretor norte-americano Jim Jarmusch nem tão pouco se preocupa em ir direto ao ponto. Diga-se de passagem, essa é uma característica marcante das diretrizes do americano. O filme é feito todo em preto e branco, o tema é faroeste e ele está repleto de atores famosos… Alguma novidade? Garanto que esse rótulo é desfeito. E quando digo isso, não estou querendo dizer que, no filme, não há aqueles componentes; não. Jarmusch consegue usar os mesmos ingredientes e fazer uma nova receita – se é melhor para gosto da maioria não posso afirmar, mas gosto igual não se conhece até prová-la.
Quebrando os paradigmas de todo o dinamismo erigido pelo cinema neste século, o diretor dá uma aula de se fazer cinema e mostra isso passo a passo, sem pressa. Entretanto, tal sistemática lhe falta no que diz respeito ao acontecimento dos fatos. William Blake (Depp) é um contador de Cleveland que, após a morte de seus pais, decide atender a uma proposta de emprego em outra cidade, na metalúrgica Dickinson a qual monopolizava certo poder local (tudo acontece muito rápido, mas mostrado sem cortes – o máximo que se vê é a elipse entre cenas marcada por uma imagem toda preta). Blake é recusado pelo figurão dono da metalúrgica, vai a um bar, conhece uma garota e a acompanha até em casa; eles são pegos abraçados pelo filho do figurão que é ex-noivo da donzela, esse cara atira nela e Blake atira nele.
O tiro dado na dama atravessa seu peito e atinge o nosso personagem principal. Ele foge e, ferido, é socorrido por um índio que jura de pés juntos que Blake é o famoso poeta e filósofo iluminista William Blake. O figurão Dickinson manda três canastrões atrás de Blake e oferece uma recompensa para quem pegá-lo. Daí aparece vários personagens durante o filme, incluindo os representados pelo ator Alfred Molina (Homem-aranha 2) e o cantor Iggy Pop. O interessante de toda essa trama é o modo como Jarmusch vai de encontro ao estilo dos diretores conterrâneos. Com esse longa, o diretor é pioneiro na fabricação de um Western existencialista-filosófico – leia-se, faroeste-cabeça. Sem falar dos avatares que ele dá a grandes atores e, até mesmo, os descarta durante o filme como se não fossem vendedores de bilheteria.
Dead Man também possui diálogos interessantes e alguns que nós nem sempre compreendemos. Os mais entendidos dizem que certas falas são citações do poeta xará do personagem principal. Bom. O fato é que Jarmusch fez uma obra incrível que mostra a condição humana reduzida a seu instinto egoísta quando o assunto é sobreviver. Enfim, apesar de muito melancólico, esse longa é, além de interessante, fascinante. Realmente não é um filme feito para arrecadar bilheterias exorbitantes, pois, infelizmente, a maioria da “cinefalhada” prefere dar atenção aos filmes comerciais que nem precisariam de legendas, as imagens bastariam para compreendê-los. Daí julgam os filmes independentes como estranhos e ininteligíveis. Não sabem eles que suas mentes é que são burras. Eu, você e quase ninguém está excluso desse público. Mas dar um pouco de atenção às obras como Dead Man já é um bom começo para erradicar essa injustiça com os filmes independentes e, claro, com o cinema como de fato deve ser feito.
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