Com pouquíssimos filmes na carreira, é difícil apontar a melhor película na filmografia do italiano Sergio Leone. De um perfeccionismo impar e ao lado de outro gênio, Kubrick, entregou obras para a humanidade atemporais, que mesmo que caia no esquecimento pelas novas gerações, ao menos angariaram seu lugar na história da 7ª arte. De seus apenas 10 filmes no currículo, 2 são épicos daquela época de espada e sandália, um filme de gangsteres e o restante, são todos de Western. Quando "Três Homens em Conflito" foi lançado nos EUA, Leone já era um cineasta popular na Europa, sobretudo no eixo Itália-Espanha, onde o sucesso de seus dois primeiros faroestes havia consolidado um ciclo de produção de filmes de baixo
orçamento que faturavam alto nas bilheterias dos dois países. Nascia então meio que sem querer, o talvez subgênero mais famoso da história, o Western Spaghetti.
Em 1967, graças ao sucesso da "Trilogia dos Dólares", todos dirigidos por Leone, os faroestes italianos, assim eram chamados já que quase todos os diretores tinham esta
nacionalidade, estavam sendo lançados aos borbotões nos Estados Unidos, onde, para incredulidade de grande parte dos críticos, faziam sucesso de público e bilheteria. Só que a maioria dos defensores do tal do 'Western Clássico', vamos dizer assim, tentaram boicotar a todo custo a nova febre do país e procurando desmerecer as produções, classificaram o novo gênero europeu de forma pejorativa, associando a palavra Espaguete na frase. As estatísticas de produção de Hollywood mostram que o Western foi, ao longo do período clássico do cinema norte-americano (dos primórdios até o final da década de 1950), o mais popular dos gêneros fílmicos. Um levantamento realizado anos depois mostrou que 25% de toda a produção de Hollywood entre 1926 e 1967 pertencia ao gênero, então, era clara a carranca de alguns críticos, fãs e defensores do Faroeste Clássico.
Mas bem, vamos ao filme, a trama narra à estória de Tuco, apelidado de “O Feio”, Angel Eyes Sentenza, apelidado de “O Mau” e Blondie, apelidado de “O Bom”. Estes três homens atravessam o velho oeste em meio a Guerra Civil americana à procura de 200 mil dólares roubados, que naquela época dava pra comprar muitas putas, ranchos e cavalos. Assim como em "Era uma Vez no Oeste", Leone inicia a película silenciosa e vai criando um clima pesado de tensão, demonstrando o tanto que o "O Mau" e "O Feio" possuem índole perigosa e sabemos que o pau vai quebrar daquele naipe. Já "O Bom" tem uma introdução um pouco mais leve e bem humorada, e que ao mesmo tempo, serve para demonstrar a habilidade do personagem com a arma e um traço importante de sua personalidade: a esperteza. Além da vivacidade de Blondie, desde o inicio da trama podemos ver que o personagem também é o menos cruel dos três.
Geralmente o roteiro escrito a seis mãos é sinônimo de coisa ruim, mas aqui vemos uma bela exceção. Escrito pelo próprio Leone em conjunto com Agenore Incrocci e Fruio Sacarpelli, o script da importância para todos os três personagens principais, sem dar ênfase excessiva para nenhum deles e intercalando e cruzando o caminho deles de forma coesa sem soar forçado ou moroso. Os bons diálogos também são excepcionais, como destaque a conversa entre dois personagens sobre as porcentagens que cada um merecia na parceria que tinham e outra conversa entre estes mesmos personagens em um quarto do Hotel sobre cinturões e esporas, genial. Algumas frases, são conjuntamente verdadeiras perolas, como uma em questão dita pelo feio em determinado momento "Na hora de atirar, atire! Não fale..."
Outro grande fator para o sucesso do longa é a ágil montagem de Eugenio Alabiso e Nino Baragli que tornam as quase três horas de duração em um curta-metragem, não deixando o ritmo cair em momento algum. E como não poderia deixar de ser a trilha sonora fica a cargo de outro gênio, Ennio Morricone que compõem melodias que são encaixadas nos momentos certo e contribuindo para enunciar sensações perfeitas a todo instante, irretocável. Sobre o trio principal, também não existe erros. Por mais que Lee Van Cleef seja o ator com menos atributos e qualidades dos três, aqui suas caras e bocas em vários momentos funcionam de forma otimamente bem para o que é proposto em tela. Já Tio Clint, utiliza poucas expressões faciais, mostrando a frieza de seu personagem. Sobra um pouco de espaço para Luigi Pistilli, astro italiano da época. Mas quem brilha mesmo é o fantástico Eli Wallach. Seu “Feio” é ao mesmo tempo ameaçador e ingênuo e Wallach consegue transmitir de forma excelente seus sentimentos e seus sorrisos misturados com suspense são muito bem captados pelas câmeras.
Muitos podem dizer que o quesito figurino em Faroestes não se sobressaem, mas aqui as roupas são bastantes características pelo período retratado no velho oeste americano, dando um caráter muito fiel a fase pós Guerra Civil. A fotografia de Tonino Delli Colli prioriza cores marrons e bege, exaltando a poeira e o clima árido das regiões exibidas. Leone conjuntamente carimba sua genialidade entregando-nos cenas clássicas, principalmente extenuando os closes máximos, acentuando rostos surrados e queimados pelo sol, muitos deles embalados por assovios e gritos das melodias e no clímax, é martelado em nossa cabeça a maravilhosa "The Ecxtasy of God", executada magistralmente pelo já citado Morricone. Mas, apesar de durante toda a projeção o filme seja estupendo em todos os quesitos, sem dúvidas o duelo final, ou melhor o "truelo" final é de fazer chorar.
O momento tão esperado mais parece um balé extremamente bem orquestrado por Leone, com movimentos de câmera sensacionais, cortes perfeitos, closes espetaculares e um crescente clima de tensão que aumenta ainda mais com a ótima trilha sonora, criando uma cena incrivelmente bela e inesquecível. Somente esta cena vale mais do que filmografias de inúmeros diretores por aí. Na trilogia 'Mad Max', o segundo capitulo é o melhor e na franquia do Batman de Chris Nolan, o segundo capitulo, "O Cavaleiro das Trevas" também é o melhor dos três. Já Leone, conseguiu o improvável, fazer com que o terceiro episodio de uma saga fosse o melhor dos três. Se "Por um Punhado de Dólares" e "Por uns Dólares a Mais" o diretor já havia executado um trabalho primoroso, aqui Leone atinge a perfeição. É um filme que falta adjetivos para descrever todas as suas qualidades. Sergio Leone prova que os amantes, críticos e defensores do Western Clássico estavam errados e que o Western Spaghetti pode entregar obras-primas... Como está...
Texto excelente, para o filme que, para mim é uns dos melhores da história do cinema.
Obrigado gente... Infelizmente boa parte da geração atual desconhece essa pérola...
Belíssimo texto mesmo. Tio clint é mito.
Belíssimo texto mesmo. Tio clint é mito. [2]
Que filmão!!!!