Meu primeiro contato com Who's Afraid of Virginia Woolf? foi um tanto quanto apático. Não pela qualidade do filme que vamos apontar mais embaixo mas sim por ser o primeiro filme preto e branco que vi e também por ser um filme vindo de uma peça teatral com apenas quatro personagens e diálogos e mais diálogos. A estréia de Mike Nichols foi bastante grandiosa. 7 indicações ao Globo de Ouro e 12 indicações ao Oscar... "Quem tem Medo de Virginia Woolf" é um firme amargo...
A história do filme gira em torno de Martha e George (Taylor e Burton), um casal evidentemente problemático que em uma noite recebe a visita de um casal mais jovem (Segal e Dennis). A visita que deveria ser de confraternização - os dois homens são professores da mesma faculdade - se transforma em um pesadelo psicológico. Martha e George envolvem o jovem casal em seu jogo de acusações e de repente todos estão emaranhados em um mundo de ofensas e discussões. Durante todo o filme acompanhamos a crescente tensão entre os casais...
Logo nos primeiros minutos, “Quem tem medo de Virginia Woolf?” já estabelece o tom carregado de sua narrativa através da trilha sonora melancólica de Alex North e da fotografia sombria de Haskell Wexler. Em seguida, acompanhamos os primeiros diálogos entre Martha e George, sufocando o espectador naquele ambiente pesado e estabelecendo os potenciais conflitos entre os personagens. Desta forma, na medida em que as discussões acontecem, o espectador já sabe o efeito que cada frase provoca neles. O montador acerta ainda na maneira dinâmica com que acompanha estes diálogos, aumentando os cortes na medida em que as agressões verbais se intensificam e evitando os cortes nas cenas melancólicas, como quando George está sentado no balanço...
Estas agressões verbais revelam também o primoroso trabalho do roteirista Ernest Lehman, que constrói diálogos afiados e marcantes, repletos de ofensas entre um casal tão autodestrutivo quanto dependente. Aproveitando-se do conhecimento que têm do parceiro para agredi-lo, Martha e George demonstram uma incrível capacidade de tocar nas mais profundas feridas do outro. Além disso, o roteiro tem o cuidado de deixar dicas do cruel encerramento da narrativa, evidenciadas todas as vezes que alguém menciona o filho do casal através do incômodo de George e da aflição de Martha...
Tudo contribui para o ambiente claustrofóbico do filme. A direção de arte de George J Hopkins mostra uma mansão formosa exemplificando a ótima situação financeira do casal, um dos outros pontos das constantes brigas motivadas também pelo fato do pai de Martha ser chefe de George. Fotografia sombria de Haskell Wexler é fenomenal e os figurinos de Irene Sharaff demonstram características de cada personagem. Quesitos esses, todos agraciados com o Oscar. O roteiro adaptado de Ernest Lehman também merecia a premiação visto que a força matriz do longa é o roteiro. Acho que Nichols não levou o Oscar de diretor acredito pelo fato de ser seu primeiro trabalho apesar disso não querer dizer nada. A trilha sonora também é extremamente competente, trazendo ainda mais amargura e magoa para a história...
Um dos fatos curiosos da pelicula foi que todos os quatro atores foram indicados ao Oscar. Curiosamente, somente as atriz levaram a estatueta para casa, mas todos os quatro estão fenomenais. Repare, por exemplo, como todos conseguem ilustrar com precisão os efeitos do álcool de maneiras diferentes e como a movimentação coletiva em cena dá dinamismo ao longa – o que é essencial numa trama que se passa em cenários fechados. Individualmente, o grande destaque é mesmo Elizabeth Taylor, que tem uma atuação fantástica como Martha, compondo uma personagem amarga e sufocante, que não mede palavras para agredir o marido de todas as formas que puder. De fala incorreta e risada histérica, Martha é uma mulher depressiva, que encontrou em George o parceiro ideal para seguir em seu caminho de autodestruição. Possessiva e dominadora, ela transmite confiança quando fala e não hesita em revelar os mais profundos segredos do marido se isto for atingi-lo de alguma maneira. A imagem de Liz Taylor gorda e envelhecida surpreendeu aos seus fãs, acostumados com sua beleza...
Com excelentes atuações, um roteiro excepcional e a direção eficiente de Mike Nichols, “Quem tem medo de Virginia Woolf?” é um drama sufocante, que faz um estudo complexo de dois personagens destrutivos e nos conduz com intensidade até o seu desfecho perturbador. Explorando os pontos fracos dos “oponentes” sem piedade e aproveitando as mais íntimas confissões de cada um deles, os personagens do longa demonstram o quanto o ser humano pode ser cruel. Afinal, ninguém pode nos ferir mais do que aqueles que tanto sabem sobre nós...
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