Após a enxurrada de filmes do subgênero 'Western Spaghetti" e do gênero "Western Clássico" durante todo o decorrer da década de 70, os anos 80 não foram bons para com os amantes de Faroeste. Devido ao desgaste que a produção maçante e na maioria das vezes sem se preocupar com um mínimo de qualidade possível dos longas nesse período, os grandes executivos praticamente varreram do mapa a produção envolvendo o Velho Oeste durante aproximadamente dez anos. Mas aí, eis que surge "Dança com Lobos" e "Os Imperdoáveis", sucessos de público e crítica ao redor do mundo, inclusive vencendo várias premiações do mais alto gabarito, graças a isso os chefões de Hollywood resolveram a dar carta branca novamente para a realização de filmes do gênero novamente. "Maverick" acaba se tornando uma improvável sucessão de acertos, devido que quase nunca os Western's são retratados de forma aventurosa ou focando na comédia e ainda mais com o Poker tendo participação ativa. O exímio Richard Donner comanda a película de forma leve, divertida e extremamente eficiente.
Escrito por William Goldman, baseado na série de TV homônima, que consequentemente era escrita por Roy Huggins, “Maverick” acompanha a trajetória de seu personagem principal pelo velho oeste com bom humor. Buscando participar de um importante campeonato de pôquer que poderá lhe render nada menos que meio milhão de dólares, tudo que Bret Maverick deseja é ganhar os seus dólares sem morrer na estrada. No caminho, ele cruza com a bela Annabelle Bransford e com o durão Zane Cooper, que acompanharão o protagonista em sua atrapalhada jornada. O que os outros enxergam como covardia, para Bret é apenas questão de sobrevivência. O roteiro, logo de cara é o principal acerto da fita, pois ao longo da narrativa ele é repleto de sátiras muito bem sacadas, fazendo com que o riso seja garantido no decorrer da história e parte disso é assegurado por parte dos diálogos ágeis e certeiros.
Donner ainda comprova seu total domínio das cenas de ação através de sua vasta experiência nesse campo. "A Profecia", "Superman", "O Feitiço de Áquila", "Os Gonnies" e "Máquina Mortifera" são os exemplos da técnica apurada do diretor, fazendo com que "Maverick" conte com sequencias totalmente empolgantes, como exemplo as cenas envolvendo diligencias desgovernadas, pulos de cavalos um para o outro, em uma clara referencia ao clássico de John Ford, "No Tempo das Diligências". Mas o filme não se limita a apenas esse menção. Além de um diferente duelo, bastante original e emocionante diga-se de passagem, existe ainda a habitual cena de surpresa aos bandidos bêbados ao redor da fogueira. Ainda com deveras competência Donner explora as belas paisagens disponíveis, ambientando perfeitamente o espectador ao velho oeste, auxiliado também pela direção de arte de Daniel T. Dorrance, que cria uma bela cidade no início, assim como capricha na aldeia indígena e no barco que receberá o campeonato de pôquer. Quesito indispensável também para um ótima transição para aquela época, o figurino de April Ferry é essencial para refletir o requinte dos charmosos vestidos e os belos ternos, principalmente para os jogadores de pôquer.
Como não poderia deixar de ser, a fotografia também valoriza o visual árido do velho oeste, com cores quentes, empregadas pelo diretor de fotografia, Vilmos Zsigmond. A montagem da dupla Stuart Baird e Michael Kelly é imensamente ágil, contrastando bem todas as sequencias de aventuras, culminando em cortes sagazes para as defluências envolvendo o torneio de Pôquer. Falando no Texas Hold'em, esse fantástico jogo de cartas, retratado pouquíssimas vezes no cinema com competência, aqui se torna notavelmente um personagem a parte. Alguns filmes já trouxeram certa dignidade e notoriedade ao jogo, como "Cartas na Mesa", "Bem Vindo ao Jogo", "Negócios e Trapaças" e "A Mesa do Diabo", mas nenhum deles o fez com tanta comicidade e com tons mais leves e alegres como "Maverick". O jogo em si é utilizado muito blefe, mas obviamente a sagacidade e competência são essenciais para a obtenção de sucesso no decorrer do game, e isso Bret Maverick tem de sobra. Poker não é pra ser jogado e sim sentido...
Para que o filme atingisse o tom certo para o sucesso, era essencial um elenco de qualidade e todos trabalham otimamente bem. As participações mais que especiais dos coadjuvantes trazem ainda mais requinte e qualidade ao tom da narrativa. O veterano James Coburn está formidável como o Comodoro Duvall e Alfred Melina até pode soar as vezes um pouco forçado e caricato com suas berrantes caretas, mas cria um vilão que impõe respeito quando necessário, amedrontador e sendo coerente com o tom leve da narrativa. Sobra espaço ainda para uma inteligentíssima ponta de Danny Glover, que em determinado momento cruza olhares com Gibson e paira no ar um certo "te conheço de algum lugar", numa clara referencia a parceria da dupla em "Máquina Mortífera". Jodie Foster conta um extremo carisma na composição de Annabelle Bransford e Mel Gibson mostra seu exímio talento e charme para nos conquistar de cara e torcer para seu sucesso a todo momento.
Inteligente também é a escolha de James Garner para viver Cooper, o pai de Maverick, já que o ator interpretou Bret Maverick na série original de TV que inspirou o filme, ainda lá na década de 50. Garner está seguro no papel, demonstrando firmeza como um policial respeitável e coroando sua atuação na cena final, quando demonstra grande conexão e química com Gibson. Donner comprova sua competência no posto de direção, entregando mais um filme totalmente memorável em seu currículo. Com cenas balanceadas de ação, humor e aventura, culminando na extraordinária sequencia final do campeonato de Poker, "Maverick" é um desses filmes divertidos , que deixam um sorriso em nossos rostos, ainda que não deixem grandes reflexões. Nem deveriam. Com muito bom humor, o versátil Richard Donner tira mais uma carta da manga e, graças também ao ótimo elenco, entrega uma narrativa despretensiosa, envolvente e, acima de tudo, suficiente para nos divertir, mesmo que o roteiro traga alguns escorregões aqui e ali, dá vontade de pegar um baralho e sair correndo jogar e tentar fazer um Royal Straight Flash por aí...
Cara esse filme vai como uma soma ao caráter crítico pra mim. Já o vejo com um ar nostálgico, onde quando criança assistia com meu avô e ele me explicava sobre poker durante o filme e isso não esqueço. Fui reassistir e continuo gostando. Uma boa brincadeira com os westerns, divertido e despretencioso. Um leve sarro. Ótima crítica Lucas.
Boa crítica Lucas, e para mim a força do filme está no elenco. Mel Gibson interpretando um canastrão é impagável.
Ate gostei, mas nem tanto assim, pelo que me lembro. Nao o tenho assim tao fresco assim na memoria, para ser honesto. Mas o que mais me chama a atencao eh a quantidade de filmes importantes lancados no ano de 1994. Impressionante.
Poxa Wolmor, muito obrigado cara!
Realmente Cristian, 94 foi um ano muito generoso com o cinema...