Escrito a partir dos manuscritos do próprio T. E. Lawrence, a ambiciosa narrativa dirigida pelo visionário David Lean acompanha a intervenção do jovem oficial britânico do título, interpretado de forma brilhante por Peter O'Toole, entediado com a função burocrática exercida no Cairo e enviado para o deserto colher informações do povo árabe comandado pelo príncipe Feisel (Guinness). Movido por sentimentos de grandiloquência e altruísmo entrelaçados de forma una e indissociável, Lawrence alia-se a Sherif Ali (Shariff) e Auda Abu Tayi (Quinn), ameniza os atritos internos existentes entre as tribos, unificando-as ao redor de um objetivo comum: derrotar o império turco otomano e devolver ao povo árabe as terras tomadas de seus pais...
Sem se preocupar em comprimir a narrativa nas tradicionais duas horas de duração, David Lean toma o tempo que julga necessário para explorar o deserto, criando lindos planos que aproveitam o nascer do sol e a exuberância daquele mar de areia. Contando ainda com a deslumbrante fotografia de Freddie Young, o diretor cria um visual arrebatador, que se confirma até mesmo nas cenas noturnas, iluminadas com destreza por Young e que servem para criar um contraste com a luz poderosa das cenas diurnas. É dele a icônica tomada onde Sherif Ali surge à distância como uma miragem, apesar de que mesmo nos melhores televisores, o efeito acabe prejudicado por ter sido criado exclusivamente para a vastidão da tela de cinema. Além do mais redefinindo o cinema-espetáculo a narrativa não economiza em planos gerais ambiciosos que revelam a infinitude da região, e municiam o espectador a explorar mais um pouco de Lawrence: seria aquela árida e ingrata liberdade, inexistente nos apertados escritórios ingleses, o que ele tanto almejara ao longo da vida?
Magro e levemente afeminado, o Lawrence de O’Toole é um personagem repleto de nuances, que, contrariando sua aparência frágil, lentamente descobre sentir prazer ao matar seus inimigos. Durante seu processo de transformação, Lawrence conhece ainda o líder dos Howeitat, Auda Abu Tayi, vivido de maneira divertida por Anthony Quinn, e também o príncipe Feisal de Alec Guinness, que demonstra sabedoria nas decisões e sabe jogar o jogo político dos ingleses. Fechando o talentoso elenco, Claude Rains vive o político Sr. Dryden, Omar Sharif interpreta muito bem Sherif Ali e Jack Hawkins marca presença como o general Allenby.
Dizem também que a A vida no set de filmagens foi um verdadeiro tormento. As grandes distâncias, o sol inclemente e a dificuldade no transporte do material obrigavam o diretor a fazer apenas uma tomada por dia. Por isso, precisou de 285 dias de filmagens, algo inconcebível nos dias de hoje. Peter O’Toole e o coadjuvante principal, Omar Sharif, ocuparam dois meses apenas com ensaios e aulas para andar de camelo. O calor de 50 graus à sombra também fez estragos: Sharif conta que tinha doze túnicas negras e idênticas para vestir e perdeu nove quilos no decorrer das filmagens. “Quando retirava a roupa, à noite, a túnica estava coberta de sal que o meu corpo perdia”, diz o ator egípcio. Esse não era o único problema. O sol também complicou a vida do diretor de fotografia, Freddy Young, que já andava às voltas com cálculos geométricos complicados para filmar em terreno repleto de dunas sem perder o foco. O negativo do filme freqüentemente derretia dentro da câmera. O excesso de luz exigia que as tomadas fossem feitas principalmente no fim da tarde. Mesmo assim, Young dominou tão bem as condições inóspitas que filmou o deserto como nenhum outro filme jamais conseguiu. A quantidade de tomadas belísimas do mar de areia é simplesmente monumental...
Um dos fatos curiosos do filme é que não há um único papel feminino com falas. Machismo? O fato é que em 1963 na noite do a premiação do Oscar, o filme venceu 7 Oscar. Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte, Melhor Edição, Melhor Música, Melhor Som e perdeu nas categorias de Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator Coadjuvante e talvez a mais sentida; Melhor Ator para Peter O'Toole, uma das maiores injustiças do Oscar. O filme ainda ganhou e concorreu a vários outros prêmios ao redor do mundo incluindo o BAFTA e o Golden Globe.
Acompanhado pela inesquecível trilha de Maurice Jarre, há cômodas maneiras de se recordar desta figura histórica, peça chave na revolução árabe e alguém tão complexo que adjetivos, ultimamente, mostrariam-se vazios para descrevê-lo plenamente. Acredito que Lawrence foi um mito envolto de incertezas e mistérios, uma lenda eternizada pelo cinema e a prova incontestável de que não se fazem mais "heróis" como nos grandes clássicos! O resto, as quase 4 horas deste épico, encarregam-se de revelar. Na verdade, o filme dispensa palavras. Nunca o deserto foi tão tórrido, enlouquecidamente quente e, ao mesmo tempo, sedutor. As areias fumegantes fornecem a paisagem perfeita para o homem forte, contraditório e cativante que foi Lawrence. O trabalho de O’Toole é perfeito: levemente afeminado, mas sem jamais ser afetado, o ator trabalha com base na sugestão, no que é apoiado por um roteiro fácil de seguir, mas repleto de pequenas sutilezas. O resultado é um filme empolgante repleto de cenas marcantes e que mesmo com quase quatro horas de duração consegue cativar o espectador sem se tornar cansativo...
Grande parte de remakes realizados de "grandes" clássicos são no minimo ruins...
Cara, vão me execrar agora. Existem dois remakes que eu prefiro, em detrimento aos originais: Bravura Indômita e Guerra dos Mundos.
Até que esses dois não são clássico unanimes...
Sobre o "Bravura" eu gosto dos dois, tanto do John Wayne quanto dos Irmãos Coen...
Já "Guerra dos Mundos" os dois são bons...
Já O Dia Em Que A Terra Parou com Keanu Reeves é de doer....