Ah futebol! Paixão nacional, esporte do qual certa emissora de televisão nos ludibria e esconde os escândalos de corrupção do país, mas aceitamos isso e tudo nos é empurrado goela abaixo! Somos informados que desde criancinha devemos escolher um time e torcer por ele fervorosamente, independentemente se ele for roubado ou o maior temor dos torcedores mais fanáticos; uma queda para a segunda divisão do campeonato nacional. Não me lembro de outro filme mais comercial e famoso que tenha retratado esse lado do torcedor como "Hooligans", visto que esse seja um tema muito interessante e com muito pano pra manga, a diretora Lexi Alexander parece evitar tratar o tema com a seriedade que ele merece, buscando justificativas para cada ato e desta forma, esvaziando bastante a discussão que o longa poderia suscitar. É uma pena, ainda mais se considerarmos a escassez de filmes a respeito e a ótima ideia principal...
Escrito pelo próprio Alexander ao lado de Dougie Brimson e Josh Shelov, “Hooligans” tem inicio quando Matt Buckner (Elijah Wood) decide visitar a irmã Shannon (Claire Forlani) em Londres após ser expulso injustamente da Universidade de Harvard. Assim que chega à capital inglesa, ele faz amizade com o cunhado Pete (Charlie Hunnam), que lhe apresenta aos integrantes de uma temida torcida local. Em pouco tempo, Matt passa a conhecer melhor e se envolver neste universo marcado pela violência....
Apesar do divertimento que a fita provoca, a maior falha de "Hooligans" seja o inconsistente roteiro. Observe por exemplo, como o diário de Matt é citado somente após uma hora de projeção e praticamente na cena seguinte já tem uma função importante na narrativa, revelando uma falta de cuidado preocupante dos roteiristas. Pra finalizar, é difícil entender como Shannon, mesmo casada e já com um filho, nunca contou para o marido que o irmão estudava jornalismo em Harvard. Por mais que estivessem distantes, ter um irmão estudando em Harvard é algo que qualquer pessoa se orgulharia de contar, portanto, fica evidente que esta “revelação” surge apenas para justificar o conflito antecipado entre as torcidas rivais num bar...
O despreparo e talvez a falta de timming para a função de diretor mostra que talvez o filme seria melhor aproveitado na mão de um outro diretor se bem que a história é da própria Alexander e eu não sei se ele a venderia para outra pessoa. O fato é que a diretora (muito gostosa por sinal) dirigiu somente mais um filme na sua carreira que também não é la essas coisas "Justiceiro : Em Zona de Guerra". Com sua câmera trêmula, cortes rápidos e a trilha sonora acelerada de Christopher Franke, a diretora deixa claro desde a primeira briga que não tem grande controle da misé-en-scene. Já o segundo confronto, apesar de também ser agitado, é melhor que o primeiro, com cenas mais realistas e menos picotadas. Entretanto, ao utilizar menos quadros por segundo para acelerar a imagem, Alexander torna a briga tão confusa que chega a provocar náuseas na plateia...
Mas Alexander não erra sozinho. A montagem de Paul Trejo também falha bastante ao cortar muitas cenas de forma abrupta, não deixando o espectador curtir o momento como ocorre por exemplo, quando os garotos freiam um trem e repentinamente, já estamos acompanhando o grupo descendo as escadas correndo. What a fuck??? Outro ponto negativo da fita são as rasas atuações. Elijah Wood se transforma ao longo de “Hooligans” e até consegue transmitir o envolvimento de Matt com aquele mundo de maneira convincente, mas sua cara de bobo causa irritação e indiferença. A sempre ótima Claire Forlani aqui chora praticamente o tempo inteiro e tem raros momentos de inspiração. Quem apresenta um certo destaque é Charlie Hunnam na pele do despojado Pete Dunham, mas o roteiro não contribui para um exímio desenvolvimento do personagem.
Talvez o único acerto técnico do filme seja a fotografia. Alexander Buono ilustra a frieza daqueles personagens em contraste da fotografia azulada, assim como as ruas sujas evocam uma Londres coerente com o submundo dos hooligans, o que é mérito do design de produção de Rosanna Weswood. Repare também a sigla da torcida GSE (Green Street Elite) pichada na parede do banheiro do bar, num capricho que confirma o bom trabalho dela. E um motivo para nos empolgar seja o futebol realmente, as rivalidades entre as torcidas mesmo que não conheçamos todos os times ingleses retratados, é fácil perceber o que possui mais títulos e nomes conhecidos e os encontros nos pubs também são muito inspiradores.
scorregando principalmente na questão ética ao justificar atos de vandalismo através de questões pessoais, “Hooligans” parece tentar maquiar a triste realidade: essas torcidas não precisam de motivos para fazer o que fazem. Se terminasse na ida dos irmãos para o Aeroporto após a morte de Pete, o filme até poderia provocar uma interessante reflexão sobre este universo violento, mas infelizmente a desnecessária vingança de Matt contra Van Holden (Terence Jay) e o plano final com ele cantando pelas ruas parecem exaltar a experiência que ele viveu no hooliganismo, o que é muito ruim. Seria mais interessante e daria uma densidade maior ao que vimos se ele refletisse sobre tudo que perdeu somente por que um grupo de pessoas quer brigar com outro grupo. E o que é pior, por causa de um time de futebol. Mas isso já acontece aqui no Brasil não é mesmo?
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário