Escrito por David Seidler, “O Discurso do Rei” narra a história do duque de York, que se vê obrigado a assumir o trono como George VI após a morte de seu pai e a saída repentina de seu irmão mais velho, perdidamente apaixonado por uma mulher divorciada. O problema é que ele sofre de gagueira, o que implica em sérias dificuldades todas as vezes que ele precisa discursar em público, algo cada vez mais necessário após a difusão do rádio. Diante do drama do marido, a esposa Elizabeth resolve pedir ajuda a um fonoaudiólogo nada convencional chamado Lionel. Eu gostei da fita, e acho que as duras críticas que o filme recebeu após as premiações foram injustas já que muitos alegaram que o filme possuía somente os moldes necessários para vencer cerimonias, o que discordo já que a película mesmo usando o já batido e desgastado lema da superação e alguns deslizes na narrativa, as excelentes atuações, os fabulosos quesitos técnicos e o ótimo roteiro garantem uma boa pedida...
Deficiência que gera descaso e muitas piadas por pessoas levianas, e que para muitos é uma ação banal e corriqueira, para um gago, falar, acaba se tornando uma atividade árdua e inacessível. Agora imagine Barack Obama, José Mujica ou Lula travando a fala fervorosamente durante um pronunciamento, uma entrevista na TV ou um debate pela candidatura? Pois é cara, era isso que acontecia com o Rei George VI durante o período da Segunda Guerra Mundial. Na época o grande mecanismo de comunicação era o rádio e o animo do eixo aliado não estava digamos assim com a auto estima lá nas alturas e Hitler antes de chegar a liderança da Alemanha, já havia provado que a persuasão da oratória era extremamente poderoso. Então, devido a toda situação que ocorria naquele período era essencial que os lideres de cada nação efetuasse discursos em horários fixados e esporadicamente era necessário que tais representantes viessem a público para encarar de frente a população, seus súditos e tentarem dar uma injeção de animo para os cidadãos. Todos essas circunstâncias já causavam extremo pavor ao Rei George, não só por sua gagueira, mas também pela sua enorme timidez...
Essa história poderia muito bem cair na cilada de se tornar um dramalhão mexicano ou uma comédia pastelão, mas de forma bastante agradável, o roteiro de Seidler atinge um ponto de equilíbrio gigantesco ditando um tom intermediário sem descambar para piadas medíocres e nem um drama gratuito. O roteirista ainda consegue inserir um forte crítica a monarquia inglesa. Seidler ainda apresenta a triste condição do Rei de forma tocante, fazendo com que criemos empatia imediata com George. Para que nos identificássemos com o protagonista era primordial uma eximia atuação e Colin Firth possuído pelo espirito do bom ator, consegue entregar um trabalho fantástico. Sem soar forcado em nenhum momento, Firth expressa a personalidade e trejeitos do monarca de maneira convincente com os raros momentos alegres do personagem. Mas George não é só bondade, em determinados trechos ficamos aborrecidos pela forma cruel que o rei trata pessoas próximas até mesmo com Lionel.
Mostrando-se preocupada e até mesmo comovida com o drama do marido, a Elizabeth de Helena Bonham Carter é a verdadeira companheira que oferece o apoio necessário na hora exata; e a atriz faz bem este papel, soando compreensiva na maior parte do tempo. Da mesma forma, o Lionel de Geoffrey Rush é o contraponto ideal para o explosivo George, com sua tranquilidade e autoconfiança servindo como refúgio para o atormentado protagonista. Rush sempre emprestado competência e requinte as suas interpretações sua atuação é estonteante. Os duelos entre os dois são soberbos e a química apresentada por eles garante o sucesso do longa. Fechando a equipe do elenco, temos Guy Perce, na pele do irritante Edward VIII que se torna mesquinho e egoísta ao constantemente zombar do problema do irmão e uma pequena participação do também sempre habilidoso Timothy Spall como Winston Churchill, com problemas na fala conjuntamente, mas que se saia melhor em suas atividades.
Tom Hooper executa uma direção discreta e conta com o auxilio de uma deslumbrante parte técnica. A fotografia cansada de Danny Cohen, reflete bem a melancólica do protagonista através de uma paleta de cores escuras e acinzentadas. A direção de arte de Netty Chapman talvez seja o maior acerto técnico que faz uma ambientação fielmente a Inglaterra dos anos 30/40, destacando as decorações, internas, palácios e as várias outras particularidades da época. Figurino também cobre as vestimentas de todos os personagens de forma contundente e a montagem de Tariq Anwar merece destaque por ir e voltar no tempo de forma simples e acertando também no corte do longa ao não se estender demais na história, deixando o filme com enxutos 119 minutos de duração. Finalizando os quesitos técnicos, os efeitos sonoros agregam importância aos discursos de George, com ênfase no discurso final e a trilha sonora de Alexandre Desplat é leve e tocante, ganhando notoriedade nos momentos de maior relevância.
Recebendo 12 indicações ao Oscar nas categorias de Melhor Mixagem de Som, Melhor Direção de Arte, Melhor Trilha Sonora, Melhor Fotografia, Melhor Montagem, Melhor Figurino, Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Atriz Coadjuvante. Acabou vencendo nas categorias de Melhor Roteiro Original, Melhor Ator, Melhor Diretor e Melhor Filme. Tom Hooper apresenta total controle visual de narrativa como quando sempre posiciona o Rei George no lado esquerdo, que teoricamente seria o mais fraco e Lionel no lado direito, o mais forte, mas quando seu pai questiona duramente sua atitude passiva, tanto o duque quanto o Rei George V aparecem do lado mais fraco da tela. Essas posições vão se mantendo durante toda a projeção e culminam na mudança durante o discurso final, com agora sim, George aparecendo no lado direito já com sua confiança conquistada e com Lionel no canto esquerdo, apenas como conselheiro, dando suporte ao Rei. Além das boas atuações, excelente parte técnica, "O Discurso do Rei" não é apenas um filme de superação, moldado para Oscar, mas sim acima de tudo uma historia de amizade improvável.
Um péssimo filme, não é daqueles casos que a galera costuma odiar por ter "tirado" o Oscar de outro grande filme e tal, esse aqui eu odeio porque é ruim mesmo.
Eu gosto do filme, a ponto de escrever esse texto, mas pra mim, naquele ano, quem merecia para melhor diretor era Fincher e melhor filme, "A Rede Social" sem dúvidas...
Acho um belo filme. Não é nenhum absurdo dar 8,0 mas entendo quem não goste. Não é um dos filmes mais atrativos...
Dos concorrentes daquele ano, só era melhor que Inverno da Alma.