Com apenas três filmes em sua carreira, John Maybury parece não ser um bom diretor. Digo isso pois não assisti "Love is The Devil (Filme de 98 não lançado no Brasil) e "Amor Extremo" de 2008, mas pelo menos a crítica e fóruns por aí escracharam os filmes. "Camisa de Força" também não é uma obra prima, mas tem certas qualidades que fazem com que o filme mereça ser visto. A história traz a lamentável situação que se encontra Jack Starks, um veterano de guerra que retorna a sua cidade natal após ter levado um tiro na cabeça durante a Guerra do Golfo. Jack sofre de amnésia devido ao incidente e precisa lidar com uma acusação de assassinato de um policial. Considerado inocente por demência, o rapaz é mandado para um hospital psiquiátrico e é sujeito a um agoniante tratamento no qual drogas são injetadas em seu corpo, utilizando-o como “cobaia” para experimentos e testes monitorados pelo Dr. Thomas Becker. Além das injeções, Starks ainda é preso em uma camisa de força e trancafiado por horas em uma gaveta de corpos no necrotério do hospital. Lá dentro, ele descobre a incrível capacidade de se projetar ao futuro e, com a ajuda de Jackie Price, desvendar mistérios que o ajudam a entender tudo o que aconteceu em sua vida e ainda consertar alguns pontos da história.
O filme apresenta em toda sua composição um clima extremamente melancólico e soturno, povoado por personagens deprimidos e fracassados pelas adversidades da vida. O filme é conduzindo lentamente e os detalhes que precisam ser revelados são feitos no finalzinho da projeção, o que pode causar frustração em alguns espectadores, mas talvez essa seja a intenção de Maybury. O filme obviamente vai te levando pra algum lugar, porem sem sabermos ao certo pra onde e essa 'pulga atrás da orelha' nos deixa um pouco desapontados, pois era esperado talvez um final mais bem trabalho e não tão preguiçoso. Talvez a falta de lógica também atrapalhe um pouco, mas as películas desse 'subgênero' não se preocupam muito com realidade e apostam também em resoluções nenhum um pouco ortodoxas, Jack e Price por exemplo, aceitam as coisas muito fácil sem se questionarem muito o real motivo daquela situação toda.
Já nos acertos, como disse anteriormente o ambiente mórbido onde se realiza toda a trama é realmente de se admirar, a direção de arte é claustrofóbica e isso é óbvio devido ao manicômio e a gaveta de necrotério, um ambiente familiar e infantil é que não seria. A fotografia como não poderia deixar de ser, remete bem a melancólica do longa, com tons bastante escuros puxando sempre pro acinzentado colaborando para criar o clima soturno da fita. Já que o filme possui idas e vindas em flashbacks intrigantes, era necessário uma montagem/edição a altura e isso Maybury consegue desempenhar com maestria também. A força da fita é imersa em uma história similar a "Efeito Borboleta", o roteirista Massy Tadjedin se mostra enormemente corajoso ao apresentar uma narrativa inusitada e impactante que remete ao filme estrelado por Aston Kutcher...
Maybury também tem méritos ao conseguir ter acesso a um elenco de apoio também formidável contanto com o já falecido e eterna promessa Brad Renfro que pode ser visto no ótimo "O Aprendiz", as belas e sempre competentes Kelly Lynch e Jennifer Jason Leigh. O atual 'James Bond', Daniel Craig, que dispensa comentários no papel mostra mais uma vez o motivo para tantos elogios e a razão para tamanho reconhecimento de seu trabalho. Já eu tenho uma relação totalmente estranho com Keira Knightley. Não a acho uma eximia atriz, apesar de ela já ter sido até indicada ao Oscar na categoria de melhor atriz, mas volta e meia não a acho essa Coca-Cola toda não. Aqui ela está deveras inspirada, sabendo apresentar Jackie revoltada e meiga nos momentos e na dose certa, uma feliz dedicação e conhecimento da personagem por parte de Knightley. Minha ressalva fica a cargo de Kris Ristofferson que não está mal, somente acredito que um ator mais jovem desempenharia um melhor papel.
Quem critica o trabalho do meu narigudo preferido que me desculpe, mas Adrien Brody tem o dom de atuar. O magrelo exprime de forma magnifica toda a deprimente degradação dos doentes mentais com sua faceta sofrida e porte franzino. Seus trejeitos são sarcásticos e frenéticos e nas tomadas em que está dentro da gaveta, o espectador consegue absorver a sensação claustrofóbica expressada apenas pelo olhar e pelos gemidos de Jack Starks que, totalmente privado de seus movimentos e numa escuridão total, tendo exposto apenas seus olhos em todas as polegadas da tela, luta em vão para tentar sair. A ênfase do sofrimento de Jack é realçada devido ao ótimo trabalho do diretor de arte Alan McDonaldo que explora bem os corredores, grades e todos os objetos referente ao manicômio, o necrotério também é aterrorizante. Esse excelente trabalho técnico aliada a fantástica atuação de Brody, garantem uma conferida certeira.
O filme hoje já não é tão lembrado e até mesmo na época de seu lançamento não teve tanto destaque assim. Mayburry não é unanimidade no quesito genialidade, mas com um orçamento de US$ 19 Milhões de Dólares consegue entregar um trabalho razoável. Talvez o que impeça uma nota maior ao longa seja a busca incessante por um final feliz e a caça por uma mensagem otimista a todo custo. De toda forma, o grande trabalho de Brody faz com que "Camisa de Força" mereça uma revisada pelos amantes de suspense...
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