De tempos em tempos, determinado autor pop cai no gosto do público mundial e vira milionário da noite pro dia. Nicholas Sparks e Dan Brown que o digam. As vezes isso é questão de tempo e basta apenas um romance para que a vida do escritor mude para uma casa de veraneio e um carro do ano habite sua garagem. Não sei se Joe Hill já pode ocupar o posto de mais novo rico do bairro, mas ao menos ele tem figurado na lista de mais vendidos a tempos. Pelo menos nos EUA, "A Estrada da Noite", Nosferatu" e "Fantasmas do Século XXI" angariaram o autor a status de novo mestre do suspense sobrenatural. E um livro em especial o trouxe ainda mais aos holofotes, "O Pacto". Esse exemplar em especial acarretou a Hill, comparações mais do que enaltecedoras, comparações com ninguém menos do que o mestre supremo do gênero; Stephen King. Mas essa comparação não é nem um pouco exagerada, já que Hill é filho mestre. E um fato que já ocorreu e ocorre corriqueiramente na carreira de King, são as inúmeras e muitas vezes duvidosas, adaptações cinematográficas de seus livros. "O Pacto" é a primeira transposição para as telas de um livro de Hill. E o resultado se mostrou excelente.
Primeiramente, só pra ressaltar que as comparações entre pai e filho se limitam ao poder de amedrontar seus leitores, pois após meia dúzia de paginas lidas dos livros de Hill já dá pra notar que o estilo dos dois são totalmente diferentes. Enquanto King é detalhista e causa uma tremenda apreensão, Hill soa leve, como se tivesse contando uma história em volta da fogueira. Não que ele não tenha seus momentos de enrolação, mas todos eles se intercalam perfeitamente com a trama e muitas vezes nos dão um entendimento maior do que está acontecendo. A adaptação de sua obra até então a melhor, considerada por público e crítica, não demorou muito, assim como os livros do Pai. O primeiro livro de King a ser transposto para as telonas foi "Carrie". O livro de 74 e filme de 76. Já "O Pacto" foi escrito e lançado em 2010 e três anos depois já estava em processo de produção. Curioso que o filme até o mês de março de 2015, ainda não havia sido lançado em terras tupiniquins. O novato Hill, teve outro jovem diretor para conduzir sua obra, o amante desses tipos de histórias, o francês Alexandre Aja.
Por mais que Aja tenha entregado obras que para grande parte do publico e crítica sejam duvidosas, o cineasta desde suas primeiras películas já demonstrava seu estilo único e característico de filmar sequencias de horror e suspense de uma forma exposta sem tremer câmeras e focando no sofrimento das vitimas e agressores, o que por si só, já apresenta o esforço do diretor em entregar materiais convincentes e sanguinários. Seu primeiro filme, "Fúria" com Marion Cotillard já exibia um clima claustrofóbico e sufocante em um 'climão' bastante exótico, mas foi com "Alta Tensão" que Aja ganhou projeção mundial e uma película norte-americana era questão de tempo. Em 2006 Aja foi convidado a dirigir "Viagem Maldita", refilmagem de "Quadrilha de Sádicos" do mestre Wes Craven e aí finalmente o cineasta francês acerta em cheio. "Espelhos do Medo" se mostrou um tanto quanto decepcionante vide a expectativa que foi criada em cima da fita e "Piranhas" se mostrou um trabalho divertido. Em "Amaldiçoado" Aja novamente acerta o tom certo entre humor negro, suspense e horror...
O filme conta a história de Ig Perrish, um jovem que é o principal suspeito na investigação da morte de sua namorada Merrin, e que após uma noite de bebedeira e sexo acorda com um par de chifres. Não meu caro, não são chifres resultados de traições por sua namorada, mas sim, chifres mesmo! Diabólicos e grudados na testa. Ao longo da trama ele descobre que seus recém adquiridos chifres possuem um certo “poder” e podem ajudar a descobrir o real assassino e as atitudes de várias pessoas vão se tornando cada vez mais bizarras. O primeiro acerto do diretor foi a composição do elenco para contar a história de Hill. June Temple que dia após dia vem conquistando seu lugar ao sol e participando cada vez mais de filmes conceituados aqui faz o papel de namorada perfeita e consegue exibir isso de uma forma autentica e voraz, é impossível não se apaixonar por ela de imediato. Temple na pele de Merrin Williams consegue enfeitiçar todos a seu redor e a jovem e bela atriz amadurece a cada investida.
Kathleen Quinlan como a mãe de Ig demonstra competência ao oscilar os momentos de amor e afeto com as sequencias de Ig após os chifres em que demonstra-se estar totalmente transtornada e túrbida. Outro jovem ator, Max Minghella prova aptidão e capacidade para figurar entre os grandes. Na pele Lee Tourneau o melhor amigo de Ig, Max se demonstra dubio e por uma interpretação errada dos fatos, desencadeia todo o desarranjo da trama. Joe Anderson como o irmão de Ig, atesta autoridade ao ser o irmão perfeito, mas que aos poucos vai exibindo outra faceta de sua personalidade. A voluptuosa Heather Graham, deliciosa como sempre, trás dignidade e mostra uma atuação um pouco caricata, porem eficiente e a desconhecida, entretanto de beleza esplendida Kelli Garner comprova potencia tremendo para o futuro e não só sua beleza inebriante e fechando o time o veterano David Morse expõe sua habilidade artística na pele do pai melancólico e abalado pela sua segunda perda familiar drástica.
O roteiro de Keith Bunin e Alexandre Aja assim como no livro intercala o presente e passado e quando menos se espera é quebrado um para falar do outro. Porem, isso é efeito de forma dinâmica e ágil o que não torna o filme cansativo e muito menos confuso, pontos para edição/montagem. Os pequenos mistérios vão sendo desvendados a cada etapa da trama e Aja consegue manter o espectador atento a cada nova investida, esperando pelo desfecho e torcendo para que algo de certo no final, mas quem já conhece Joe Hill sabe que ele não presa pelo final feliz, ele nos conta sua história, expõe os fatos e a narrativa toma um rumo tão doido e surreal que seu final ainda assim é compensador, mesmo que seja hibrido e algumas dúvidas apareçam, visto que o desfecho não fica 100% esclarecido. A personalidade dos personagens e suas motivações ocultas ou explícitas nos dão base para perceber que não é possível dissociar cada um deles de seu papel na história e a personalidade de cada um vai ficando a tona a medida que a história evolui e isso que torna o filme bastante especial.
Daniel Radcliffe em 2012 tentou desassociar sua imagem do Bruxo mais famoso da literatura com "A Mulher de Preto", mas não obteve tanto sucesso assim, mas aqui ele se desvencilha com louvor. Com olhar distante e frustrado, Ig só quer resolver e encontrar o assassino de sua amada a todo custo. De semblante abatido e debilitado, Radcliffe demonstra com êxtase a ruina de Ig e fica improvável não torcer pra que ele encontra a paz que almeja e merece. De final um pouco diferente do livro, Aja ainda entrega uma fotografia formidável, bastante condizente com o clima obscuro do enredo. Alguns podem chiar sobre a questão do título, já que o livro é "O Pacto" e o filme tenha virado "Amaldiçoado", fez com que a Editora Arqueiro tenha relançado o livro com esse titulo, mas nada que comprometa a diversão. De toda forma, "Amaldiçoado" não é apenas uma história sobre verdades, é também uma história sobre o mal que guardamos dentro de nós e que raramente nos permitimos libertar, é a representação escrita do famoso ditado "tá no inferno, abrace o capeta"...
ok, já deu pra ver que você é fã do autor Joe Hill e não vou criticar o trabalho de alguém que não conheço, mas também não posso deixar de pontuar a impressão que sua critica me deixa de ela ter sido muito mais embasada na obra literária do que no filme.