“Seja forte, Edgar”
É interessante analisar como são construídas as ideias do filme. Todas pela ótica de John Edgar Hoover (Leonardo DiCaprio), criador do FBI, que se mostra como um anti-comunista ferrenho e um homem de opiniões fortes. Mas o que dá errado no filme é que as opiniões e atitudes profissionais de Hoover são pouco e mal retratadas em longos e cansativos 137 minutos. Ao invés disso, Eastwood preferiu investir suas fichas na vida pessoal do personagem, que de longe não é tão interessante quanto a importância profissional deste. É certo que o relacionamento (quase) homossexual entre Hoover e Clyde Tolson (Armie Hammer) era algo impensável para a época, e é importante ser retratado. Mas não como o principal tema do filme.
O modo em que o J. Edgar é estruturado também mostrou não ter sido uma ideia acertada. O filme é dividido em duas frentes: o “presente” de Hoover, em que ele, ainda como diretor do FBI, cargo ocupado por 48 anos, decide contar sua história de vida, – ou ao menos a sua versão, como nos é revelado ao final – que é o que se configura no outro plano do filme (e é a parte que funciona do filme, diga-se). As constantes interrupções da história que está sendo contada pelo próprio protagonista, para um agente-escritor, Smith (Ed Westwick), acabam tornando o filme repetitivo e cansativo.
Com relação ao relacionamento entre Hoover e Tolson, é deixada clara e muito bem interpretada pelos atores a tensão entre os dois, que eram mais do que simples companheiros de profissão ou amigos (ainda que, ao que parece, nunca tenham tido alguma relação de fato). Porém, mais uma vez a repetição e insistência em ficar o filme todo focado só nessa relação atrapalha o desenvolvimento para algo melhor, fato que também se aplica a relação de Hoover com a mãe, que de certa forma mandava na vida pessoal do filho (inclusive reprimindo a homossexualidade que o filho insinua para ela) mesmo ele sendo um respeitado diretor de uma instituição importante.
Os efeitos de envelhecimento utilizados nos atores, pelo fato de o filme contar cinco décadas da vida dos personagens parecem forçados, especialmente no personagem de Hammer, Clyde Tolson, onde vemos claramente um exagero da produção; o que nota-se também em DiCaprio, embora menos acentuado. O tom escuro do filme, porém, ajuda a disfarçar um pouco essas falhas.
É certo que John Edgar Hoover foi uma figura polêmica, e, talvez por isso, a direção e o roteiro tenham optado por contar a história pelo ponto de vista dele. Mas poderíamos ver mais ação e movimento no filme, que acaba se tornando um dramalhão quando não era o que se esperava dele – ainda mais vindo do velho cowboy Clint Eastwood.
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