O ano era 2002 e o objetivo dos produtores de 007 era de criar um filme comemorativo para os 40 anos de vida da série do cinema. Parando para pensar, realmente é de se aplaudir uma franquia cinematográfica que perdure por quatro décadas e chegar à marca do 20º filme. Sim, era um feito a se comemorar. Todavia, o resultado de tudo isso foi "007 - Um Novo Dia Para Morrer", que ao invés de ser uma homenagem a esse grande feito, acabou sendo uma ofensa ao fãs fiéis de Bond e ao seu criador, Ian Fleming.
Ao decorrer de toda sua história nas telonas, nunca um grande diretor fora chamado, até então, para assumir um 007. A fórmula já pronta e repetitiva (mas quase sempre divertida) acabava relevando essa carência por um cineasta de bom currículo.Tal fato nunca chegou a ser relevante para os produtores, por mais que, em diversas ocasiões, comprometessem diretamente a qualidade de um ou outro filme. Infelizmente, este que é o 4º trabalho de Pierce Brosnan na pele do espião, foi um desses filmes comprometidos, não só pela ausência de uma boa direção, mas também por toda a produção, que nada ajudou no rascunho e no desenvolvimento da história. Assim, seria injusto atribuir a totalidade da culpa ao diretor neozelandês Lee Tomahori pelo fracasso da obra.
O mais paradoxo de "Um Novo Dia Para Morrer" é que, pela primeira vez na história de 007, o filme parece ser dividido em duas partes distintas: a primeira engloba os 40 minutos iniciais e a segunda, todo o resto. O que vimos na primeira parte chega a encher nossos olhos e nos dar esperança de algo realmente novo na Era Brosnan: a humanização do personagem, vista anteriormente por George Lazenby em "A Serviço Secreto de Sua Majestade" e Timothy Dalton, em seus dois filmes na pele de Bond, "Marcado Para a Morte" e "Permissão Para Matar". Não dava para não perceber o tom "almofadinha" do ator irlandês em seus três primeiros trabalhos: seja num tiroteio, numa perseguição ou explosão, estava lá James Bond com seu topete firme e com o terninho engomado, sempre no controle da situação. Quando se inicia "Um Novo Dia Para Morrer" vemos o agente falhar em sua missão na Coréia, ser capturado e torturado pelos inimigos. Após ficar 14 meses preso, Bond aparece sujo, cabeludo e com uma vasta barba. Realmente algo novo plausível dentro do universo bondiano. A tensão retratada entre Coréia e ocidente também contribuem para a sensação de algo real e atual, o que dá um ar mais sério para a trama... Até os 40 minutos iniciais (40 anos, 40 minutos... até parece proposital). Quem já assistiu "Um Drink No Inferno", de Robert Rodriguez, tem a mesma sensação aqui: do nada, a narrativa muda bruscamente e pensamos: é o mesmo filme que estávamos assistindo? Infelizmente o resultado aqui chega a passar longe do trash divertido de Rodriguez. O enredo acaba perdendo toda a seriedade e parte para um lado fantasioso, bobo e mal executado. A realidade do começo despenca e abre espaço para trocas de "DNA", carros invisíveis e efeitos precários (o que é inadmissível para uma superprodução). James Bond vira uma mistura do que há de pior dos filmes de ação, ficção científica e super-heróis.
Nem as referências aos outros filmes da série e nem a melhor interpretação de Brosnan como James Bond compensam o aborrecimento da apelação comercial vista nessa "homenagem" nada singela aos 40 anos da franquia. Halle Berry, como a Bondgirl Jinx, também acaba sendo ofuscada tanto pela falta de conteúdo da trama quanto pela superficialidade de sua personagem. Mais um agravante: o vilão Gustav Graves, interpretado por Toby Stephens, chega a ser um dos mais patéticos da franquia. Seu personagem não tem qualquer carisma e tão pouco tem presença, passando longe de antagonistas memoráveis como Goldfinger, Blofeld, Max Zorin, Elliot Carver, entre outros.
No balanço final, "Um Novo Dia Para Morrer" representou um desgaste para a franquia. Um produto vazio, excessivo, barulhento e banal. Uma tentativa de homenagear o agente secreto que deu errado e ao invés de lembrar os melhores, só evidenciou os piores momentos da série.
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