Eu não era nascido na época, mas que deve ter sido ruim presenciar a “Era Roger Moore” na franquia mais famosa do cinema por 13 anos é algo inegável.
O fenômeno chamado James Bond existe ainda hoje graças ao eterno Sean Connery, que nos apresentou ao personagem de uma maneira brilhante e com filmes extraordinários como "Moscou Contra 007" e "007 Contra Goldfinger". Desde sua saída do papel, a série, que durante suas primeiras películas era inabalável, passou por turbulências que quase culminaram no seu "enterro". Primeiro que colocaram um canastrão chamado George Lazenby para substituir Connery, que em seu único filme na pele de Bond parecia mais um poste do que gente. E até mesmo a volta de Connery, um filme depois, decepcionou. '007 - Os Diamantes São Eternos" foi a origem de uma maneira ordinária de fazer um filme de Bond: apelativo, demasiadamente cômico e com roteiros precários, beirando o pastelão.
Roger Moore caiu como uma luva nesse contexto, servindo para transformar, literalmente, Bond em um palhaço. É deprimente compararmos o delicioso "Moscou contra 007", que possui uma trama e desenvolvimento sérios e uma determinação e atuação incríveis de Connery, com qualquer filme de Moore. Ao longo de seus 7 longas como 007, somos obrigados a presenciar vilão que vira balão e explode, outro que mata um tubarão e destrói o cabo de aço do Bondinho do Pão de Áçúcar com uma apenas uma mordida e, pasmem, ver o espião imitando o grito do Tarzan... Isso nem falar do tiroteio a laser no espaço!
Dentre todas essas baboseiras, surgiu pelo menos algo de positivo: John Glen assumindo o cargo de diretor em "007 - Somente Para seus Olhos". Digo isso pois Glen batalhou para recolocar a série nos eixos. Tanto é que nessa sua primeira tentativa, ele nos deu um 007 mais frio, sério e sem as extrapolações vistas em episódios anteriores. Embora não tenha sido uma fita memorável, serviu para dar um "tranco" fazendo, ou pelo menos tentando, tudo voltar a funcionar como nos primórdios. Sua segunda tentativa, porém, Glen regrediu às piadinhas e situações engraçadinhas, que transformaram "Octopussy" em um dos longas mais desnecessários da série. Na terceira tentativa, Glen retomou o que tinha feito na primeira, mas não contou com um bom "material humano", pois Moore em "Na Mira dos Assassinos" já estava um vovô indecente (60 anos de idade), lento e que exigia o uso de dublês até para tomar um copo d'água.
Essas três primeiras experiências foram necessárias para que Glen nos presenteasse em 1987, já com um novo ator, com um James Bond perfeito: "007 - Marcado Para a Morte".
Embora o contexto histórico não ajudasse, pois a sua maior motivadora, a Guerra Fria, estava literalmente esfriando e as sucessivas investidas de Moore que insistia em continuar na série com sua canastrisse, que fizeram o público dar as costas para Bond, o galês Timothy Dalton interpretou o papel com o coração e nos deu um espião muito parecido com aquele de Connery, frio, sério, charmoso, embora menos irônico.
Vemos aqui, tudo que um filme de Bond deve ter de maneira bem equilibrada e harmônica. Existem as grandes perseguições, os carros super equipados, cenas de ação que tiram o fôlego, uma 'Bondgirl' carismática. O argunto de "Morte aos Espiões" é interessantíssimo, pois de início, nos passa a sensação que os agentes estão sendo cassados, assim como a SMERSH fazia no auge da Guerra Fria.
O único ponto fraco é a dupla de vilões encabeçados pelos inexpressivos Jeroen Krabbé e Joe Don Baker, um general decadente e outro um mercenário comerciante de armas e drogas, respectivamente. Nenhum dos dois chega a ser ameaçador ou mesmo carismático, o que é atípico na franquia. Mas isso não é o suficiente parta abalar o resultado geral da película.
"007 - Marcado Para Morrer" foi o melhor filme de Bond desde "Goldfinger". E Timothy conseguir fazer em apenas uma vez o que Roger Moore não conseguiu em 7: dar uma interpretação digna ao imortal espião inglês.
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