Em seus últimos filmes, Woody Allen apresentou o que o crítico Marcelo Hessel chamou de crônicas comportamentais. São filmes singelos, focados nos dramas cotidianos, quase que banais, dos personagens, e que terminam com algum tipo de conclusão moral ou filosófica – sempre fornecidas pelo narrador, seja ele personagem ou não.
Foi assim em Vicky Cristina Barcelona, foi assim em Tudo Pode Dar Certo e é assim em Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos – o mais fraco dos três.
Na história do novo filme, somos rapidamente apresentados a vários personagens, cada um deles com seus “pequenos” dramas pessoais. Alfie (Anthony Hopkins) já não agüenta mais viver com a esposa Helena (Gemma Jones), que parece não acompanhar o seu estilo de vida jovial, e a troca pela jovem Charmaine (Lucy Punch). Sally (Naomi Watts), filha de Alfie e Helena, também não vai bem em seu casamento com o escritor frustrado Roy (Josh Brolin), o que a faz investir na relação com Greg (Antonio Banderas), seu chefe e dono de uma galeria de Arte. Roy, por sua vez, vive com a angústia de não conseguir emplacar outro livro de sucesso e encontra na jovem Dia (Freida Pinto) um consolo.
Com tantos e diferentes personagens, Allen mostra que aquilo que está dizendo acontece e se aplica, de fato, a todas as pessoas. O neurótico diretor ilustra seu pensamento com um trecho de Macbeth, famosa tragédia shakespeariana : “Fora! apaga-te, candeia transitória! A vida é apenas uma sombra ambulante, um pobre cômico que se empavona e agita por uma hora no palco, sem que seja, após, ouvido; é uma história contada por idiotas, cheia de fúria e muita barulheira, que nada significa”.
Ou seja, não devemos nos preocupar tanto com os nossos problemas, afinal, a vida não significa muita coisa. E, no fim das contas, todos nós encontraremos o estranho moreno e alto a que o título original se refere (piada perdida com a adaptação nacional).
Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos não é um trabalho melhor que os dois anteriores de Allen - Vicky Cristina Barcelona tem melhores personagens e Tudo Pode Dar Certo é bem mais divertido. No entanto, mantém a perspicácia típica dos trabalhos do cineasta. Os diálogos são ótimos e mensagem, mais uma vez, passeia entre o otimismo e o pessimismo. Como seus últimos filmes, esse não irá marcar a extensa carreira do diretor, mas, ainda assim, vale a pena assistir.
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