"A fábula social de M. Night Shyamalan "
O medo do desconhecido sempre fez parte do imaginário popular, e cada pessoa reage de uma forma diferente perante ele, com alguns tentando desqualifica-lo ou ridiculariza-lo como um sistema de defesa, outros tentam entende-lo para depois julgá-lo, mas independente disto, tem coisas que não foram feitas para serem compreendidas, pelo menos não em sua plenitude, e é com base nisso, que a alegoria de M. Night Shyamalan se sustenta, ou seja, trata-se de um filme alegórico, poético, instigante e reflexivo.
Desde o lançamento do filme "A Vila", que não teve uma repercussão tão favorável, sendo massacrado por parte da crítica e do público, Shyamalan vem buscando se aventurar pelo cinema experimental, testando novas ideias e conceitos, longe das amarras dos grandes estúdios e dos desejos de uma plateia alienada e desinformada. Com "A Dama na Água" infelizmente este novo conceito não deu certo, e Shyamalan sentiu o gosto amargo do fracasso de crítica e público, mas ainda tenho esperanças de que futuramente seu filme tenha o reconhecimento merecido. Com seu projeto seguinte, o diretor não desanimou e investiu em uma nova empreitada sobre a mesma perspectiva, que foi o filme "Fim dos Tempos", um projeto novamente arriscado, mas que diferente de seu antecessor, alcançou relativo sucesso.
O filme homenageia clássicos do cinema como "Os Pássaros" de Alfred Hitchcock, "A Bruma Assassina" de John Carpenter e "A Noite dos Mortos-vivos" de George A. Romero, e assim como eles contextualiza os filmes B de ficção científica dos anos 50 com uma leve crítica social, onde o foco é o acontecimento, e não o roteiro e atuações. O espectador não pode levar a sério demais um filme desta natureza, devendo apenas embarcar em seu clima genuinamente aterrorizante e envolvente. Shyamalan a todo momento brinca com os medos do telespectador, e entende muito bem até onde pode ir, criando um dos climas mais angustiantes e sensoriais dos últimos anos.
Muitos criticaram as atuações do filme, onde apontaram que alguns atores estavam inexpressivos ou caricatos, mas não perceberam que o diretor intencionalmente inseriu esta abordagem ao filme (e a escalação do filme comprova isto), buscando mostrar como a sociedade vive atualmente, onde casais estão em relacionamentos artificiais e distantes, crianças cada vez mais solitárias e dependentes dos pais, e outras que buscam o isolamento total por estarem desiludidas com a vida. E com base nesta sociedade doente e sem perspectiva, que o diretor analisa como este grupo de seres humanos reagiriam perante um evento sem explicação aparente.
Fim dos Tempos se mostra um bom filme, com ótimas ideias e boa execução. Shyamalan continua sendo um dos poucos diretores autorais de Hollywood, tendo um talento inegável na captação de imagens e na criação de um bom clima de suspense, mostrando também ousadia e criatividade, não cedendo as pressões externas do público e da crítica. Que venham mais projetos como este, os fãs (verdadeiros)agradecem.
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