Na infância, ao brigar com aqueles que fazem parte do nosso círculo familiar, logo pensamos em uma solução que parece predominar tanto que virou até clichê: fugir de casa. Essa tentativa de resolver problemas dentro de casa, no entanto, mostra-se totalmente equivocada quando se percebe que, de forma alguma, o mundo externo será mais aprazível que a esfera familiar.
Laços de Ternura (Terms of Endearment, 1983, James L. Brooks) versa sobre a relação entre uma mãe exigente, Aurora Greenaway (Shriley MacLaine), e sua filha desbocada, Emma Greenaway (Debra Winger), mostrando os altos e baixos do relacionamento que ambas construíram desde o nascimento da segunda e ao longo dos anos. Enquanto Aurora sempre parece pronta a mostrar a Emma que ela sempre poderá conseguir mais da vida, Emma sempre se dispôs a se contentar com alegrias simples e cotidianas – como comprar uma gravata para seu marido e ser ajudada por um estranho no mercado.
Todavia, o comprometimento de Aurora com os princípios e sonhos que reservou para sua filha extrapolam, por vezes, o bom senso, como no momento em que resolve deixar de ir ao casamento da mesma por não gostar de vê-la junto a um professor mediano por toda sua vida. Enquanto isso, crescem os filhos de Emma – Tommy, Teddy e Melanie -, sua mãe relaciona-se com seu vizinho astronauta mulherengo e bêbado – Garrett Breedlove -, sua melhor amiga, Patsy, torna-se uma mulher de negócios que mora em Los Angeles, além dos affairs que tanto Emma como Flap, seu marido, experimentam na tentativa de viver vidas menos infelizes.
Ao adaptar o livro homônimo de Larry McMurtry – conhecido pelo Oscar recebido pelo roteiro de Brokeback Mountain, de Ang Lee -, James L. Brooks opta por um tratamento episódico para o enredo, mas que não perde intensidade devido a uma composição segura e delicada que conquista o espectador. Ao centrar seu drama no trabalho de atrizes do porte de MacLaine e Winger, o diretor tece com detalhes o relacionamento de ambas, tornando implícitos e, dessa forma, naturalizando um dos principais elementos da narrativa: os relacionamentos.
Desde a primeira cena – em que Aurora, preocupada em saber como a filha está no quarto, termina beliscando seu braço e fazendo-a chorar para ouvir o som – até cenas emblemáticas – como no hospital em que Emma está internada e Aurora grita para que as enfermeiras apliquem-lhe rapidamente uma injeção contra dor -, acompanhamos a vida de dois seres humanos que caminham vivos diante do espectador.
Conhecido por seus filmes focados na humanidade de seus personagens, Brooks, além de equilibrar o trabalho do elenco, emprega os elementos da linguagem cinematográfica de maneira singela a fim de evidenciar a miscelânea de carinho e aridez na relação entre eles. Com os tons pastel de uma fotografia que atemporiza a narrativa e uma trilha sonora que combina tons suaves e lúdicos, o longa funciona como uma sinfonia de sentimentos extremamente humana, em que as qualidades e imperfeições de todos são expostas com a mesma sinceridade e beleza.
Dessa forma, sentir Laços de Ternura pode ser uma experiência que nos leve a sorrir e chorar com a mesma proporção, mas também a repensar a forma como temos nos expressado com o outro, às vezes tão próximo no tempo e no espaço, mas distante no coração.
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