Esteticamente preciso como sempre, Scorsese volta a um tema pelo qual é apaixonado, sua cristandade, mas aqui consegue fazer pensar entre outras coisas sobre que direito religiosos possuem de tentar forçar suas crenças ao outro, independente de qual seja.
Filme extremamente rico, de múltiplos silêncios, choques culturais, busca de glórias, incompreensões mútuas, necessidade de auto-afirmação, investindo em sequências que incomodam (no bom sentido) e grandes atuações (Issei Ogata rouba as cenas).
Scorcese toca num ponto bem delicado. O que é verdade e o que não é? Como há duas verdades se não existem "as", mas apenas uma? O problema de tudo, sempre, está no homem, afinal de contas. A escassez de música e a crueza do sofrimento dão o toque final.
Religião e fé tomam conta desse novo trabalho de Scorsese, temas já recorrentes em sua filmografia. Drama fervoroso, sem os tantos artifícios que vinha utilizando em trabalhos recentes.
Um tour de force riquíssimo sobre imperialismo cultural, fé, religião institucional e sentimento religioso. Deus, se existe, não é digno dos seus fiéis. Que filmaço.
Por mais religioso que Scorsese seja, aqui o diretor não se preocupa em exaltar sua visão, pelo contrário, mostra com maestria todas as incertezas que afligem pessoas assim. Garfield na melhor atuação de sua carreira e uma linda fotografia completam.
Esse verdadeiro tratado sobre a fé, belamente fotografo e tecnicamente impressionante, transborda paixão e tem uma linha de elaboração tão firme e clássica que só poderia ter saído dos olhos (e mãos) de Martin Scorsese mesmo.
Em ritmo mais clássico, um filme de velho, com estrutura caprichada, visual refinado e explorando bem os atores, carregando a metragem, garantindo sequências maiores.
Corrido nas considerações finais. Há muitos anos ali, cabia minutos a mais nessa parte.
"Give me release. Witness me. I am outside. Give me peace... Heaven holds a sense of wonder. And i wanted to believe. That i'd get caught up. When the rage in me subsides..."