Trafega sobre a linha tênue entre a dor e o desejo privilegiando a imagem em vez do som. Cada qual à sua maneira, os personagens desse conto perturbador transbordam seu caos individual e simbolizam um mundo pleno de patologias.
Se por um lado, o hedonismo automobilístico-destrutivo dos personagens não crie um vínculo forte de empatia com o espectador. Por outro, Cronenberg consegue alcançar a origem das perversões e fetiches, indo a um lugar onde pouquíssimas obras já estiveram.
O mais desafiador tipo de cinema que pode existir. Crash respira sexo, fala sexo, come sexo, defeca sexo e joga sexo aos quatro ventos. O ser humano enquanto animal, e o mais irracional possível.
Um dos ápices de Cronenberg, no qual o corpo sofre para proporcionar prazer, é praticamente um bizarro sonho erótico com ares de Lynch, que desliga nosso racional e aciona nossos sentidos à toda potência, mergulhando-nos em seu fetichismo desconsertante.
Tapa na cara da sociedade, sedenta por violência gratuita e obscenidades (sem que importem as consequências). Cronenberg diz muito pelo silêncio e Crash é difícil de se descrever em palavras.