Joaquim Pedro de Andrade - em seu primeiro longa - constrói uma Minas Gerais opressiva, melancólica, lugar desvanecido, onde o desejo está ao lado da frustração, da pobreza, da inércia do tempo. É uma obra de forte lirismo, sua base é a poesia, sua encenação rigorosa e fascinante. Existe mistério nas pedras, na paisagem, no coração humano, nas luzes e sombras. Um grande achado do Cinema Novo.
Só tenho a dizer que o festival de intolerância e ódio no fim, e a cena final na gruta/caverna, é uma das coisas mais impressionantes que já assisti no cinema nacional.
Sexualidade vs. religião nível Verhoeven. Uma mulher que é a beleza em meio à pobreza e a feiura, e a dualidade entre o divino e o profano, tanto pra ela quanto pros outros ao seu redor. "Não sei se é demônio ou Deus que dá no meu corpo". E que final!
Existe um confronto entre os corpos modernos de Paulo José e Helena Ignez e o meio ambiente. Confronto propositalmente mal resolvido pela montagem: entre a resistência e o corte. A mixagem do som torna o português um dialeto estranho aos nossos ouvidos.
Essa poesia filmada de forma estonteante me fez superar meu preconceito com o Joaquim Pedro de Andrade. Diferente da bagunça que é Macunaíma, aqui é tudo muito minimalista e cuidadosamente belo. Helena Ignez, irreconhecível, se destaca também.