"A Ilusão da Perfeição"
Darren Aranofsky é um dos realizadores mais conceituados do cinema contemporâneo. E isso foi conquistado com uma filmografia que surpreendeu o mundo cinéfilo, composta dos fantásticos e psicologicamente pesados, "Pi" e "Réquiem para um Sonho", o polêmico "Fonte da Vida" e o mais simples e experimental "O Lutador". Com um currículo desses, difícil ficar indiferente.
Confesso que quando "Cisne Negro" foi anunciado, encarei o projeto com desconfiança. Aparentava ser um filme com temática banal e sem muitos atrativos. Mas, conhecendo o talento de seu realizador e da atriz principal, além dos trailers cada vez mais intensos, minhas expectativas foram aumentando consideravelmente. Até que chegou o dia de finalmente assisti-lo no cinema, em janeiro de 2011, que para minha surpresa estreou na minha humilde cidadezinha do interior do Paraná.
Quando os créditos finais rolaram, não acreditei no que acabará de ter presenciado, somente um dos maiores espetáculos cinematográficos já realizados pela 7ª arte. A sensação da experiência proporcionada por Cisne Negro é indescritível, onde um turbilhão de sentimentos se aflora a cada frame revelado. Mas você deve estar se perguntando, de onde vem tanto entusiasmo por este filme? o que posso garantir, é que não são poucos os motivos.
O maior destaque da película é sem dúvidas, Natalie Portman, que já havia demonstrado talento em projetos anteriores, como "O Profissional" e "Closer: Perto Demais". Mas nada que se compare a sua atuação aqui. Portman parece ter agarrado o papel com tanta força, como se fosse o último de sua vida, e assim como Nina, se libertou de um passado em que era vista pela sociedade como uma pessoa frágil e inocente. Seu Oscar e todas as premiações conquistadas foram merecidas. Todo o elenco de apoio esta fenomenal, mas o destaque vai para Mila Kunis, que calou a boca de muitos incrédulos por aí.
Mas tudo isso não seria possível, sem um talentoso diretor por trás das câmeras: Darren Aranofsky. Toda a atmosfera apresentada, onde roteiro e direção se complementam, demonstram a particular visão de Aranofsky para o que é apresentado, influenciando-se por clássicos do cinema, como "Repulsa ao Sexo" e "Suspiria" de maneira sábia e sutil.
Toda a parte técnica é primorosa, sendo os maiores destaques a direção de arte, o som e a fotografia. Percebam o perfeccionismo dos enquadramentos, onde a presença de espelhos é constante, sendo estes simbólicos dentro do contexto da trama. O colorido e os brinquedos de pelúcia do quarto de Nina contrastam com a realidade suja e sombria da cidade e da academia de balé que frequenta, evidenciando assim um despreparo em sua criação para os desafios de uma vida independente.
Seus detratores utilizam o argumento do filme de Aranofsky ser pretencioso, clichê e irregular. Todas as opiniões devem ser respeitadas, mas já devem ter percebido que não as compartilho.
No que se refere a perfeição apresentada no título deste comentário e no cerne que move a trama, sendo Nina o pivô da situação, fica claro que embora Nina acredite ter encontrado-a, esse sentimento não passa de uma ilusão, visto que para a sua transformação de "Cisne Branco" para o personagem título do filme, foi necessário a sua morte, e consequentemente o sofrimento de sua mãe, que presenciou as consequências de uma criação irresponsável (sendo possível diversas outras interpretações para esta cena, pois esta é bastante simbólica).
Para nós, resta-nos comemorar que um projeto sombrio e autoral como este, tenha feito tanto sucesso de público e crítica, e torcer para que "Noah", próxima empreitada de Aranofsky previsto para 2014, seja tão bom quanto os demais trabalhos de sua icônica filmografia.
Um filmaço, apesar da cena da transformação das pernas em patas. Parabéns pelo texto.
Valeu Christian.