Pode-se considerar Drácula de Bram Stoker como o último grande filme de terror a que denominamos clássico. De uns quinze anos para cá, o que se vê são filmes de terror que mais se baseiam no susto do que no medo, e, por muitas vezes, esquece-se do enredo. Não é o caso deste filme, uma grande obra do já consagrado Francis Ford Coppola, o mesmo de O Poderoso Chefão. Algumas cenas nos lembram os memoráveis filmes de hitcock com um toque de Kubrick.
O grande fio que segura à obra é a narrativa do livro de Bram Stoker, o primeiro da civilização moderna a trazer a lenda de Drácula, tanto que Coppola colocou o nome do escritor no título do filme. Aqui se vê um Drácula diferente, mais humanizado, atormentado pela perda de um amor, culpando Deus pelo acontecimento. Aí se dá o rompimento com o lado celestial e a ligação com as trevas. Se se quer ver muita ação e mordidas de cabo a rabo do filme, como se tem visto nos últimos filmes vampirescos (lê-se Van Helsing, Drácula 2000, etc.) esqueça. Aqui se vê uma história de verdade, fortemente sustentada com fatos muito mais verossímeis do que as outras histórias.
Com uma maquiagem horripilante, Gary Oldman representa muito bem o papel de Drácula, e o local escolhido para representar a Transilvânia foi um dos melhores que já vi. O clima tenebroso mas humano sustenta a lenda como verdadeira. Anthony Hopkins é o eterno rival do antagonista, o doutor Van Helsing, que persegue a besta por toda a sua vida, e, enfim, está frente a frente com seu inimigo. Os pontos negativos ficam para Keanu Reeves, com papel secundário, mas ainda tímido, no início da carreira, e Winona Ryder, que não consegue convencer dando vida ao grande amor dracul. Mas a busca pelo encontro do amor, o desejo irresistível que as mulheres sentem ao pressentirem o grande vampiro ainda continua forte, e convincente.
O filme começa no século XV com a batalha entre o exército da Transilvânia e os turcos. Drácula vence a batalha, mas ao chegar em casa encontra a mulher morta, ela se jogou no rio porque recebera a falsa notícia de que o marido morrera na guerra. Sendo uma suicida, a igreja não concede o perdão à sua alma, o que causa a ira de Drácula que renuncia a Deus e a igreja.
Com um salto de praticamente quatrocentos anos chegamos a Londres do século XIX, onde Jonathan Harker (Keanu Reeves), um jovem advogado, é enviado à Transilvânia para fechar um contrato com o conde Drácula que queria comprar alguns terrenos na Inglaterra. Drácula vê a foto da noiva de Harker, e reconhece sua amada: a mulher tem os mesmos traços do seu antigo amor. Ele parte para Londres e deixa três vampiras encarregadas de sugar o sangue de Harker para que ele não escape. Depois de muitas tentativas, ele seduz Mina (Winona Ryder) que mesmo assim acaba se casando com Harker, que, por milagre, escapa da prisão vampiresca.
Mas, Dr. Van Helsing, encarregado de estudar a doença da irmã de Mina que fora mordida por Drácula, acaba por assumir a batalha e proteger Mina das garras do vampiro. Mas é inútil, ele já a seduzira e mordê-la e levá-la com ele é questão de tempo. Justamente na cena em que Drácula a transforma é que se tem uma atitude interessante. Vê-se o vampiro bem humanizado, que no momento em que vai dar o sangue a Mina para que então ela se torne eterna, ele entende o mal que está por fazer. Vai condená-la à eternidade, à busca insaciável por sangue. Mas mina quer se juntar ao amado, e se deixa transformar em vampira.
Contudo, em uma caça sangrenta, Van Helsing e seus ajudantes conseguem matar as vampiras e ferir Drácula, que aos pés da cruz, se fixa em Deus e pede para que Mina dê-lhe paz. A morte liberta Drácula da maldição, que, regenerado, descansa em paz.
Coppola, com uma visão impar sobre como retratar uma história, fecha o ciclo, como já dito, dos grandes clássicos de terror. Não se tem sustos, se tem, por vezes, medo. E um medo bem trabalho. Quem não se assustou com a vida própria da sombra de Drácula. Ou com a cena dele andando pelas paredes externas do castelo, ou com a cena em que Harker se barbeia e sangra, e Drácula sorve as gotas deixadas na navalha. A cena em que, no labirinto, ele seduz fogosamente a irmã de Mina, ou, voltando à cena em Harker se barbeia, a mão de Drácula tocando seu ombro sem que ele estivesse adentrado à sala. Drama? Terror? Suspense? Romance? História? Lenda? Um misto de tudo em uma boa história de Stoker & Coppola.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário