Na década de 1960, um fenômeno da ficção científica tomou conta da televisão nos Estados Unidos, e logo se espalhou pelo mundo. Estou falando, é claro, da série Star Trek (para nós, "Jornada nas Estrelas"), na qual acompanhamos as desventuras da nave Enterprise e de sua tripulação. É de se espantar que, mesmo devido ao enorme sucesso, tenha demorado dez anos desde o fim da série de TV para que um longa-metragem de Jornada nas Estrelas fosse produzido. Em meio a problemas de orçamento e de elenco (Leonard Nimoy, intérprete do Capitão Spock, não queria voltar para o longa-metragem), o filme acabou saindo, e a direção coube ao experiente e confiável Robert Wise.
Embora Wise seja mais lembrado pela direção de dois musicais que lhe renderam o Oscar de melhor diretor, Amor, Sublime Amor (West Side Story, 1961) e A Noviça Rebelde (The Sound of Music, 1965), ele tinha uma vasta experiência em filmes de terror e de ficção científica. Dirigiu, por exemplo, o icônico O Dia em Que a Terra Parou (The Day the Earth Stood Still, 1951), além de ter colaborado com Orson Welles na edição de filmes como Cidadão Kane (Citzen Kane, 1941). Assim, acabou sendo uma escolha acertada e até mesmo previsível para a direção do filme de Jornada nas Estrelas.
Uma primeira ressalva que deve ser feita é que o filme parte do pressuposto (corretamente, é claro) que o público já conhece os personagens que compõem a tripulação da nave Enterprise, e não perde tempo em apresentá-los. Além disso, ele dá imediata sequência aos eventos nos quais a série de TV havia parado anos antes, e aqui devo confessar minha total ignorância em relação a eles, já que nunca acompanhei todas as temporadas de Jornada nas Estrelas. De qualquer forma, não há qualquer dificuldade em acompanhar a trama, tanto por esta não ter qualquer tipo de complexidade, quanto por quase todo mundo já ter pelo menos ouvido falar em nomes como Capitão Kirk e Spock.
O maior defeito do filme, contudo, é a ausência de um inimigo de "peso". Nós acompanhamos a nave Enterprise em busca de uma entidade especial que está destruindo tudo em seu caminho e se deslocando em direção à Terra. Mas tal entidade fica envolvida em uma aura de mistério, e sua identidade só é revelado no fim do filme. De qualquer forma, quase não há ação. Não há sequer uma única batalha envolvendo a Enterprise, e um certo clima de marasmo envolve os longos 132 minutos do longa-metragem. A grande sacada do roteiro é focar nas relações entre os personagens, com diálogos afiados e um elenco seguro. Assim, é sempre interessante acompanhar as disputas, rusgase demosntrações de amizade entre Kirk (William Shatner), Spock (Leonard Nimoy, que particamente só entra em cena após 45 minutos de metragem), 0 Dr McCoy (DeForest Kelley, meu personagem favorito), o Capitão Decker (Stephen Collins), e outros que não tiveram muito tempo para se destcar, mas que estão presentes no imaginário de quem acompanhou a série de TV, como Uhura (Nichelle Nichols), Sulu (George Takei) e Chekov (Walter Koening).
Para contornar a falta de ação, o diretor Robert Wise investiu na construção de belíssimas imagens, acompanhadas de efeitos visuais competentes e da ótima trilha de Jerry Goldsmith (o filme foi indicado ao Oscar em ambas as categorias, além de melhor direção de arte). A longa sequência na qual a Enterprise é sugada para dentro da entidade inimiga é impecável, e deve ter dado um considerável trabalho para Wise e sua equipe. O "passeio" de Spock, sozinho, em meio a uma espécie de universo paralelo dentro de tal entidade, também é um momento memorável. O filme, é claro, não tem nenhum objeto de fazer refletir sobre determinado assunto, como é comum em filmes de ficção científica, e sim proporcionar alguma diversão e dar continuidade à série, e isto é feita com competência por Wise.
Aqueles que nunca assistiram à série ou que não são fãs do gênero, podem se desapontar um pouco com a ausência de grandes momentos de ação, e isso é de fato um grande problema. Mas, em compensação, é imensamente prazero acompanhar a dinâmica dos personagens da nave Enterprise, e os belos enquadramentos e sequencias orquestrados pelo diretor Robert Wise. No todo, um bom filme, que deu novo vigor às aventuras da Enterprise.
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