Dirigido pelo aspirante David Gelb, “Renascida do inferno” conta a história de um grupo de estudantes cientistas, discretamente envolvidos em um projeto ambicioso, que consiste em reviver animais mortos, por intermédio de um soro criado por eles. Durante o processo eles conseguem ressuscitar um cão, e passam a observá-lo para entenderem a eficácia do procedimento. Nesse meio tempo, ao tentarem repetir à façanha, a pesquisadora Zoe (Olivia Wilde), também membro da equipe, acidentalmente morre. Não obstante, através do mesmo experimento, ela é traga de volta à vida por seus colegas, despertando ao mesmo tempo com ela uma força maligna.
Apesar de eu ser fã da categoria terror, estou desacreditado desse tipo de produção, justamente por filmes “mais do mesmo” surgirem a todo tempo (a técnica found footage mandou lembranças). Em corroboração a este fato, surge “Renascida do inferno” que, em virtude de seu bom trailer, engana o espectador com sua premissa aparentemente interessante. Basta assistir a obra na integra para se deparar com mais um filmeco, destes que reutilizam as exauridas fórmulas do gênero, comprometedoras de todo o resultado.
A atuação competente da atriz Olivia Wilde como protagonista é destacável, embora, não fique claro o que realmente está ocorrendo com sua personagem. O discorrer da história propõe algumas conjecturas sobre o efeito do tal soro ressuscitador, sem definir com exatidão quais seriam suas sequelas. Segundo o roteiro, o tal soro capaz de reviver mortos, pode aumentar a capacidade cerebral em uma totalidade de 100%, sendo desconhecida até mesmo pela própria ciência às implicações disso em um ser humano. O que seria um bom escape para se justificar as novas habilidades de Zoe em ler mentes e mover objetos por força do pensamento, como também esclareceria seu notório desequilíbrio emocional e gradual agressividade após ser reanimada, sendo estas outras consequências da ação do soro. Não fosse o fato de a personagem também passar a levitar, a interferir na estabilidade da energia elétrica, sua voz mudar grotescamente de entonação, até tornar-se uma ávida assassina, características notórias de alguém supostamente possuído.
No decorrer do filme descobrimos também o trauma de Zoe, devido um incêndio ocorrido em sua infância, no qual ela estava presente. Por tal motivo, o espectador é constantemente submetido a cenas paralelas de chamas se alastrando, numa alusão óbvia ao inferno. O que faz sentido diante do título traduzido, entretanto, em relação ao original, “The Lazarus Effect” (O efeito Lázaro), nem um pouco. Diante dessa mistura entre abalo emocional, dominação satânica e um resultado químico desastroso, ao público restará somente o impasse entre as hipóteses de Zoe ser apenas fruto de um acidente científico, ou vítima de uma predisposição demoníaca... Ou, simultaneamente, as duas ideias. Que seja...
Quando os créditos surgem na tela, evidenciando o fim do longa, essa incerteza sobre Zoe é o que menos importará. O filme se descamba em uma sucessão de equívocos, pontas soltas e clichês aborrecidos, não restando muito a se salvar. O notável ator Evan Peters, popularizado na série “American Horror Story”, também integra o elenco, servindo de mero refúgio cômico na trama, muito mal aproveitado, certo de que ele não é o único. Os integrantes do grupo, no geral, são detentos de personalidades amorfas, não por culpa dos esforçados atores, mas pela idealização pífia dos papéis mesmo. Um grupo de cientistas crível não seria tão inconsequente e amador diante da uma descoberta grandiosidade como a deles. Os diálogos são simplórios, apresentando rápidos e irrelevantes embates entre argumentos científicos e religiosos, principalmente se levarmos em consideração à profissão exercida pelos personagens. Na verdade, a falta de coerência e os sustos fáceis são as maiores características do filme. O pânico é causado por todos aqueles métodos já conhecidos pelo público, luzes piscando, pessoas que surgem do nada, vultos, som alto evidenciando a aproximação do perigo, e blá, blá, blá... As mortes são ainda piores, acometidas de forma mal elaborada e apressada – morrer por engasgamento, diante de uma vilã com poderes paranormais, foi patético. O único alívio criativo a se atribuir a esta projeção é o confinamento no qual são sujeitados os personagens, num laboratório em um subtérreo, responsável por certa tensão. O que não dura muito tempo. Logo o vergonhoso desfecho surge e lança pelo ralo qualquer explicação do que houve realmente. Nem sequer o paradeiro do cachorro é esclarecido. Ele simplesmente some após os holofotes se voltarem para Zoe, à nova ressuscitada.
Por fim, “Renascida do inferno” não passa de mais um representante descartável do terror moderno, que engana pelo seu estratégico trailer.
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