É difícil fazer algum tipo de análise em um filme dirigido por Steven Spielberg, e estrelado por Tom Hanks, os dois que figuram no hall dos melhores em suas determinadas funções. “O terminal” pode se resumir na solidificação de um estilo e uma forma de fazer cinema imortalizada por esses dois grandes “fazedores de filmes”. Apesar de não ser o melhor trabalho da dupla, que dois anos antes surpreenderam os críticos com “Prenda-me se for capaz”, O terminal faz muito bem o que se propõe, uma diversão saudável e não apelativa ao público que vai do infantil ao adulto. As piadas bem marcadas, beirando o clichê, e cenas com poucas falas e muitas ações de expressão, dão a linha tênue que permeiam às 2 horas de filme.
Spielberg deixa claro, que nos últimos anos não tem o mesmo cuidado com suas direções que o consagrou, e se preocupa em fazer produções grandes, e ficar longe do set, como nos filmes Transformers. Mas sua mão e seu time nas coisas mais sutis continuam bem vivazes na tela. Hanks, com a competência de sempre, convence como Viktor, e segura todo o filme, aliado a grande fotografia feita dentro do aeroporto. Ele não só consegue uma ótima interpretação, como consegue impor muitas nuanças dentro da personagem. Catherine Zeta-Jones não se sai tão bem, apesar de sua trama ser bem elaborada, já Stanley Tucci continua versátil como sempre, vivendo o diretor da alfândega aeroportuária. No geral, o filme dá seu recado de forma segura e bem coerente com o que foi proposto inicialmente pelos envolvidos no processo.
Analisando a história e o contexto em si, pode-se imaginar que tudo foi uma ideia original do roteirista, porém foi baseada no caso real de Merhan Karimi Nasseri, que vive num aeroporto nas redondezas de Paris há 21 anos. Parece irreal, que Navorski conseguiria algo dentro daquele aeroporto, sem dinheiro local, sabendo poucas palavras em inglês, e preso a alguns metros quadrados. Mas a mensagem mais clara passada por situações como essa, é a capacidade de adaptação do ser humano, uma teoria que Darwin já defendia há séculos com os seres vivos. Cada pequena dificuldade ia sendo atropelada por situações cada vez mais criativas, como a de retirar os braços da poltrona com um canivete, ou devolver carrinhos de malas por 25 centavos, o que deixa a sobrevivência falar mais alto, no real instinto do animal que somos nós. A aparente ingenuidade de Viktor pode ser considerada uma defesa para o novo, e essa ausência de máscaras que ele não precisaria mostrar dentro de um ambiente entranho, fez com que nos mais variados momentos, ele desse, nem que fosse esperança aos que passavam por aquele terminal.
Ali a teoria dava lugar à prática, assim como na própria vida real, onde, por exemplo, sem noção nenhuma verbal de Inglês, Navorski se comunicava e criou ali vínculos que ultrapassam a barreira cultural ou linguística. Esse filme nada mais é do que um retrato da miscigenação dentro do planeta, e de como o homem é sábio pra lidar com o novo. Palmas para a equipe e pra ideia original da fita que é ótima, aliada a direção de um cineasta genial, e com atuações marcantes, destacando é claro Tom Hanks, e um roteiro bem coerente, mesmo que um pouco perdido no final. Apesar de não ter tido as melhores críticas, “O terminal” é um blockbuster de nível muito bom, e com questões sociais e até filosóficas bem pertinentes.
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