Acho interessante como a gente vê tanto crítico comentando o esquema de cores usado pelo Shyamalan para dar pistas sobre o desfecho, mas pouco ou nada vê o pessoal falando sobre toda a conversa no hospital que antecede o "eu vejo gente morta" e que meio que é o norte desse filme e de toda a obra do cara até aqui, o contador de histórias usar os "twists" como forma de dar emoção às obras, sem nunca tornar eles a obra em si. Reviravoltas em Shyamalan são caminho, não destino.
Daí que, muito mais que um filme sobre o garoto que vê fantasmas ou um filme sobre um Bruce Willis que não sabe que está morto, O Sexto Sentido é um filme todo sobre a ausência do diálogo nas relações e como, a partir desse diálogo estabelecido entre garoto e terapeuta/fantasma, se abrem os caminhos para chegar naquela cena do Cole e a mãe dele conversando no carro e, simultaneamente, acertando as contas com o passado deles e estabelecendo um presente de contato e, de quebra, acertando as contas da mulher com o próprio passado de trauma familiar que acaba afetando sua família no presente também, obviamente. Cena bonita demais, que estabelece uma marca que se tornaria característica do cinema do Shyamalan dali pra frente independente do gênero: pessoas em busca do contato humano em meio às suas situações-limite.
Bonito demais o outro diálogo fundamental também, de marido e esposa em "planos astrais" distintos e conectados através do sono, do sonho, do diálogo há tempos em falta, que, infelizmente, acaba ofuscado pela reviravolta em si dessa cena, mas que merece uma segunda visita pra apreciar a beleza da coisa.
Mas, sim, bacana demais como o Shyamalan usa o vermelho no filme, pessoal. Concordo.
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