Uma obra extraordinária, cujas imagens aguçam nossos sentidos, um filme sedutor, atraente, misterioso e romântico.
O cenário está perfeito, o figurino impecável, ótimas vozes, só pecou na escolha dos atores que infelizmente são apenas cantores, pois deixam a desejar em suas performances, a obra é exigente, sentimos falta de boas atuações.
A história como eu presumo já é bastante conhecida, se não o é, lhes apresento agora: Paris, cenário perfeito para grandes apresentações musicais e teatrais da época. La Carlotta (Minnie Driver) era a soprano favorita de uma conceituada companhia teatral, temperamental e ‘mimada’ por seus produtores, decide abandonar os ensaios no mesmo dia da apresentação, devido a falta de um solo no espetáculo.
Mas isso é só ensejo para que seus produtores implorem por sua volta, o que não acontece pois, a partir daí, uma outra voz, mais bela e mais jovem a substituirá. Christine (Emmy Rossum) até então só fazia parte do coro, porém, ao ouvirem sua esplêndida voz, a jovem passa a ser a preferida nos palcos (certamente isso é um alívio para nós telespectadores, que não teremos mais o desprazer de ouvir a irritantemente aguda voz de La Carlotta pelo resto do filme). O Visconde de Chagny (Patrick Wilson), um ‘amigo’ de infância de Christine, que a reconhece quando a jovem se apresenta no teatro é um dos novos patrocinadores da companhia. Os dois se apaixonam um pelo outro, porém, o que ninguém sabia é que a talentosa Christine tinha como tutor, o misterioso fantasma da ópera, uma lenda daquele local.
Demorou bastante tempo, mas enfim saiu dos papéis, uma das mais famosas e marcantes obras da Broadway, adaptação do romance do inglês Gaston Leroux, dirigido por Joel Schumacher com músicas e roteiro adaptado de Andrew Loyd Webber.
As músicas estão ótimas, mais modernas, mais vívificas (pelo menos bem mais que nas versões de 1925 e 1998), a orquestração combina com os atos, os momentos eufóricos e os momentos melancólicos bem acompanhados ora por delicados violinos ora pela metaleira estridente de trompetes e trombones, tudo para dar o tom, a musicalidade e principalmente a poeticidade do filme, casando música, poesia e uma história repleta de suspense. Os momentos de suspense do filme também estão ótimos (por causa da sonoridade e iluminação), o Fantasma da ópera (Gerard Butler) é um verdadeiro Don Juan do inferno, pois consegue ser romântico, charmoso e sedutor, ao mesmo tempo em que deixa sair um monstro assassino e ciumento de dentro de si. Don Juan pois ofertava rosas envolvidas de fitas negras para sua amada ao mesmo tempo em que seduzia e encantava. O que admiro num filme como este é a relação entre realidade e fantasia, pois ambas se fundem e se misturam de uma tal forma que não conseguimos separá-las, ou ficar designando, por exemplo, esta ou aquela cena como real ou fictícia; real no sentido de coerente à realidade humana, não que seja verídica. É nesse aspecto que chamo a obra de lírica e poética.
As músicas também estão bem adaptadas, apesar de uma Paris de épocas passadas, as músicas estão modernas, clássicas sim, ultrapassadas não (apesar que, a música clássica nunca envelhece). Os melhores atos ficam por conta do fantasma e Christine, porque a performance de Patrick Wilson no papel de Raoul (o Visconde) está muito forçada. A música “The phantom of the opera” cantada em dueto por Christine e o Fantasma é simplesmente fantástica, ele atravessa com ela o espelho e a convida para seu mundo na escuridão da noite, ela fica completamente fascinada pelo fantasma enquanto cantam perfeitamente a música em dueto, até que ela finalizando com um crescente de tons, subindo de meio a meio tom até chegar numa altura equivalente a um grito. Perfeito. Logo em seguida, o fantasma canta para ela “The music of the night”, belíssima também, envolvente, e ele a seduz com essa música, Christine se vê encantada por ele. Depois disso vêm outras cenas, algumas músicas, inclusive a romântica “Think of me” cantada em dueto também, só que por Christine e Raoul que apaixonados se declaram um ao outro, ele, prometendo protegê-la do fantasma e de suas artimanhas. Outro ato que pra mim ficou esplendido é a “Masquerede” com o fantasma invadindo o baile de máscaras no teatro, ameaçando a todos, instruindo-os para uma última ópera escrita por ele próprio e que deveria ser seguida à risca conforme suas exigências. As muitas vozes nesse ato cantando e as pessoas dançando, descendo por uma grande escada, descendo todos sincronizados, e logo depois interrompidos pelo fantasma. E por fim, a cena da ópera do fantasma que assume o papel principal ao lado de Christine, em termos de atuação, é o melhor ato do musical, “The point of no return”, os dois se envolvem com uma sensualidade, numa dança excêntrica e bela, envolvente ao ponto de se desejarem ardentemente.
Enfim, era pra ter sido uma grande obra, porque é um espetáculo inesquecível, mas as falhas são muitas, apesar do cuidado com a fotografia, o figurino, trilha sonora, os efeitos especiais e o roteiro, os atores são muito fracos, ou melhor, não foram bem trabalhados, acredito que deu-se importância demais às vozes e esqueceu-se das performances, há momentos ridículos e falas desnecessárias. Tudo bem, convenhamos que um musical não é como um filme comum, pois além de atuar, deve-se cantar, dançar e encantar, atrair mesmo, é preciso muito preparo e capacidade para tal. Não é uma obra ruim, mas poderia ter sido melhor, isso é evidente.
Contudo, O fantasma da ópera recebeu três indicações ao Oscar, melhor Direção de Arte, Melhor Canção Original e Melhor Fotografia. Destaque para a canção original, composta exclusivamente para esta nova versão da obra, “Learn to be Lonely”, linda a música e cantada apenas na apresentação dos creditos finais e rapidamente tocada em algumas cenas como fundo, aliás cantada no final do filme por ninguém menos que Minnie Driver, lembram da Carlota do começo do filme, com aquele agudo irritante? Pois é, cantando essa música nem parece ela, pois a voz é perfeita.
O Fantasma da ópera é uma obra eterna, e que se eterniza ainda mais a cada nova versão, aos interessados eu recomendo o livro de Gaston Leroux, ou seja, a obra original, certamente vai encantar muito mais.
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