Se quisesse ser uma obra separada de fato talvez funcionaria. Eu não vejo o porque e não queria uma obra que recoua exageradamente ao Iluminado, que emulasse o Kubrick e seu estilo único, que tentasse explicar o que não fora explicado, que não tivesse alma e que se perdesse em ser tudo sendo algo separado.
O longa se passa muitos anos após os acontecimentos no Hotel Overlook. Dan (Ewan McGregor) se tornou um homem atormentado pelo seu passado, seu pai, sua mãe e sobre sua própria iluminação. Ao mesmo tempo que ele tenta se reencontrar como pessoa ele acaba fazendo contado com a garota Abra Stone (Kyliegh Curran). Ela está descobrindo sua iluminação e consegue sentir que um culto, liderado pela Rose The Hat (Rebecca Ferguson), estão matando para consumir a iluminação de outras pessoas para não morrerem. Dan então se junta a Abra para combate-los.
A direção não é de todo o mal, possui alguns bons momentos no inicio do filme e em como lida com a ambientação das "viagens" de iluminação dos personagens, mas não tem tanto cuidado com manter essa tensão ou interesse no decorrer do longa. A trilha, que é icônica no primeiro filme, aqui principalmente para criar tensão, não consegue chegar nem perto, e irrita ao usar de algumas técnicas meios bobas e que vão sendo exageradamente repetidas, como o bater de um coração. Quando chega no final, onde poderia ser monumental, nem a notamos e se coloca como uma repetição sem criatividade.
As atuações não tem nada de mais, Ewan McGregor está bem no decorrer do filme, mas no ato final, principalmente em uma parte que ele tem q ser como o Jack Nicholson, ele está deslocado. Todos os integrantes do grupo de vilões são unidimensionais, principalmente Rebecca Ferguson, que está afetadíssima. Quem manda bem é Kyliegh Curran que traz uma leveza de espirito muito aconchegante e Alex Essoe, que embora não pareça em nada com Shelley Duvall, tem um trabalho de voz brilhante, um olhar e postura perfeitos.
A tarefa era para lá de difícil, conseguir conciliar um livro que é muito diferente do filme original, o filme original e sua marca no cinema, junto com um novo livro. Um filme que conciliasse há todos e que tivesse algo só seu. E infelizmente meu medo desses elementos se atrapalharem acontece e o filme se perde em si próprio. Seus dois primeiros atos não são incríveis, mas cria uma obra interessante e que respira por si, com sua própria estética e com uma estória coesa. Já seu ato final é uma confusão só e um sinônimo do que não se fazer em uma adaptação desse estilo, jogando fora sua identidade, correndo para o filme do Kubrick, e o pior, abusando de sua estética e seus personagens de formas gratuitas e fúteis para agradar um publico nostálgico, mas sem gosto. Temos uma chuva de referencias, o sangue no elevador, o machado, o labirinto, o cara de terno com uma ferida na cabeça falando a mesma frase (?!?!), e temos varias outras... Mas o que faz de O Iluminado uma experiencia cinematográfica sem precedentes até hoje não é apenas sua estética (e estética tem que estar ligada ao conteúdo para chegar no ápice), ou algumas coisas bizarras acontecendo, mas sua acuidade unica mesmo se tratando de um filme tão desconcertante, criando um purgatório infinito, deixando espaços, perguntas e sendo uma experiencia sensorial acima de tudo. Em Doutor Sono isso parece ter sido esquecido nesse ato final.
O filme chega ao Overlook Hotel e abandona a si mesmo e se perde em como homenagear seu filme predecessor. A estrutura já estava pra lá de chatinha com a obvia ideia de ir sumindo os outros membros do culto, menos a vilã principal, para termos um embate “épico” sem a necessidade, colocando temas mais importantes para longe e fugindo de outras formas de embates e de clímax que poderiam ser muito mais interessantes. O plano em si não faz o menor sentido, assim como todos os planos do filme, a “grande” vilã que tem sabe se lá quantos anos parece nunca ser tão poderosa quanto todo munto fica repetindo para trazer uma ameaça que o filme não é capaz de entregar. A menina já arrebenta com ela deis do começo do filme, sendo muito mais poderosa e parecendo ter muito mais pratica mesmo tendo acabado de conhecer seus poderes. Fazendo a luta final não ter vida própria, nem perigo nenhum, nem peso entre os personagens, já que a menina nem participa e o embate emocional do protagonista não está ali, mas em seu pai e seu passado.
Aliais, o encontro entre Dan e Jack, seu pai, é uma ideia interessante, mas que teria que ter sido feita com uma maestria de poucos, e aqui também falta, tanto pela interpretação de Henry Thomas (um ator bem limitado), pela direção que fica em repetir ângulos do Kubrick, quanto pelo roteiro em si, já que não existe sentido do Jack ter se tornado barman do Hotel e pela cena inteira ser bem telegrafada e de pouco peso, embora tenha ideias bacanas, sobre o papel de nossas fraquezas, que poderiam funcionar em um roteiro mais polido e atuações mais contundentes.
E o final coroa a falta de coragem que o filme se mostrou ter e vai para um lugar totalmente sem criatividade, envolvendo até a mãe do protagonista, o sacrifício para a salvação e um discurso no quarto da garota que da vontade de ter passado longe do filme. Com uma verborragia de toda a mensagem “profunda” e lição de vida que o filme quis passar, e que já estavam ali, e que já eram obvias pra caramba. Toda a meia hora final é uma junção de nostalgia mal colocada, uma emulação estética infértil, uma confusão entre si e seus antecessores e uma necessidade de conclusão. Esquecerei esse filme com a força que amo e lembrarei o de Kubrick.
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