A animação Wall-E surgiu como um ambicioso projeto da Pixar em fazer um filme (quase) mudo e politizado voltado ao público infantil. A idéia bastante original acabou dando mais do que certo, e Wall-E tornou-se um sucesso instantâneo, que se deve em parte pela primazia técnica, em parte pela mensagem política e também pelo carisma inaudito de seu protagonista, um robozinho que pouco fala além do próprio nome e se torna cada vez mais humano durante o filme.
A história começa com o pequeno robô executando sua tarefa -na qual está empenhado desde que foi construído- de limpar a Terra já que os humanos poluíram demais e deixaram diversos robôs de sua espécie aqui para “arrumar a casa” enquanto eles voam em um cruzeiro espacial que pode durar muito mais do que planejavam. A dinâmica muda completamente quando EVA, uma robô criada com o intuito de encontrar vida orgânica na Terra aterrissa e encontra nosso protagonista.
O que acontece então é uma improvável, porém deliciosa história de amor entre o solitário e ultrapassado Wall-E e a super equipada e decidida EVA (que como em qualquer história de amor que se preze não corresponde de imediato). O desenvolvimento deste romance vai leva-los ao encontro dos humanos em cruzeiro, que vivem de maneira preguiçosa e robotizada.
Um dos grandes méritos deste clássico do século XXI é que tudo é sugerido, desde a solidão de Wall-E até a mensagem de trabalho em conjunto e inconformismo do final. Ao contrario de pretensiosos filmes “sérios” como Crash- no limite, a mensagem não é gritada do começo ao fim sem que nos dê tempo de usar um centímetro de nossos cérebros, na verdade é um dos filmes da “nova leva” que mais estimula a reflexão. O futuro onde o monopólio de uma empresa (BUY N’ LARGE) torna a humanidade uma massa sem rosto em que todos vivem do mesmo jeito é uma metáfora para o conceito de aldeia global criado pela globalização.
Não somente isso como também é criticado a falta de consciência ambiental, o consumismo e o individualismo numa sociedade em que os robôs se apaixonam e são muito mais humanos do que aquelas massas inertes vivendo suas vidas monótonas dentro de uma nave em que todo o trabalho é realizado por aparelhos mecânicos. À parte dessa visão pessimista o final redime tanto a humanidade como os andróides pelo mais nobre dos sentimentos: o amor, aliado ao sentimento de solidariedade com o próximo.
Apaixonante, sensível e emocionante, Wall-E supera expectativas e mostra o potencial que Hollywood ainda tem de fazer bons filmes. Mesmo que seja sem atores nem sets de filmagem, contando apenas com efeitos de computador e muito, muito coração.
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