Grande filmes de Linklater, que trabalha com maestria acerca de conceitos modernos (e pós) de várias áreas, não esquecendo de uma ácida crítica ao descerebrado instinto armamentício estadunidense - a cena dos amigos que se matam no bar é uma das melhores dos últimos 20 anos, de uma genialidade impar. O diretor concretizava-se como grande estudioso do cinema em si, de suas possibilidades de leitura no contexto de animações com um drama existencialista complexo e de fácil aproximação com o público.
Waking Life, grasso modo, fala de um jovem que "vive" em seus sonhos reflexões diversas sobre tudo, até sobre o ofício do cinema - algo que Linklater se utiliza de idéias sobre roteiro propostas por Truffaut, onde diz o grande diretor que os melhores filmes são aqueles que não são presos a um roteiro, mas que abrem espaços a improvisações. No decorrer da trama, nos damos conta de o quão abrangetes acabam se tornando as reflexões dos sonhos do personagem principal - que não é revelado um nome -, nessa sua angustiante jornada por seus sonhos, por onde ele tirará grandes reflexões para o seu viver.
Com uma Trilha Sonora consisa, Linklater acaba quebrando o eventual ritmo monótono proveniente de sua inigualável verborragia, algo que ficou falho em Antes do Amanhecer, sem trilha sonora, calcado em diálogos diversos, nesse filme não funcionou uma das marcas do jovem e talentoso Linklater.
Linklater é um vanguardista, que por si não nega fogo ao utilizar de experimentos em seus filmes, esse seja, talvez, o mais experimental de todos, uma base profunda para a grande adaptação de Scanner Darkly de K. Dick, anos seguintes. A base formada pelo diretor é no traço bem peculiar de sua animação, em Waking Life de forma mais prematura, mas não menos instigantes. Todavia, como já dito, a complexidade das obras de Linklater estendem-se a um grau ainda maior, ficando ao final do filme uma sensação intrigante, mas cheia de possibilidades de reflexão.
Suas constantes homenagens e citações também encantam, e não é apenas pelo extenso número de teorias filosóficas e hermenêuticas que ele joga na tela, não é apenas pelo fato de Linklater por os dois personagens principais de Antes do Amanhecer em uma reflexão perfeitamente encaixável no contexto do filme, a obra dele ganha pontos, principalmente por ser uma autoria pura e vanguardísta com inteligência, sem pretenções mirabolantes, sem as apelações patentes aos filmes idependentes norte-americanos.
Por tentar fazer um filme sem medo de errar, ao mesmo tempo que perfeitamente seguro de si, Linklater se concretiza enquanto um grande diretor que merece muito respeito e admiração atualmente. A saga onírica de seu personagem nos traz uma proveitosa gama de reflexões que o jeito inovador de Linklater abrilhanta sem modismos e pedantimos. Uma autoria especial do cinema contemporâneo esse Waking Life.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário