Versando através de uma alegoria interessante do Livro de Jó – uma das pérolas da Literatura Mundial, diga-se de passagem -, sem nunca esquecer daquele humor típico construído através de sua consistente filmografia, Um Homen Sério é mais uma obra-prima dos irmão americanos.
De fato, o filme carrega em si um fardo auto-biográfico, afinal, o foco do longa localiza-se dentro de uma comunidade judia, portanto, nas origens dos diretores. Porém, as várias questões levantadas no filme assumem uma dimenssão bem maior se pensarmos como o homen – e aí entra diretamente o Livro de Jó – relaciona-se com uma “provação divina”. E nesse sentido, o que acontece na vida do protagonista Larry Gopnik durante o filme não faz do filme apenas uma comédia de erros.
Larry é um professor de Física, pai de família judeu que tudo em sua vida começa a sair de uma dada normalidade (lembra-se de Jó…). Sua mulher o faz de gato-e-sapato, e quer o divórcio; não sabe ao certo se vai ser efetivado no emprego; seu irmão só se mete em encrencas; uma aluno coreano tenta o subornar com relação à notas. Em meio a tudo isso, Larry tem que manter-se fiel ao seu credo judaíco, ser um homen sério, enquanto tudo conspira contra ele, uma provação, tal como a de Jó.
Mas antes, o filme começa em algum tempo em um vilarejo russo. Um prelúdio que aparentemente não tem relação com o filme. Todavia, durante o filme iremos perceber a relação que aquela pequena cena tem com a reflexão central do filme. Lá, o marido chega feliz em casa, diz que fora ajudado por um homen, mas a mulher o interpela dizendo que esse homen morrera a três anos. Em seguida o homem chega na casa, a mulher pensando aquilo trata-se de um espírito malígno, ataca o homen. Afinal, os Coen parecem nos indagar: como nós reagiríamos diante de uma situação adversa? Como agiriamos se tivessemos no lugar de Larry?
As melhores passagens do filme, são aquelas em que Larry busca o conforto de sua comunidade religiosa para tentar entender, para buscar conforto diante daquela torrente de má sorte que o atinge. Nesse momento, os diálogos entre Larry e os rabinos são de uma genialidade estupenda, pois, intercalam o humor negro e nonsense habitual, a uma pura e genial reflexão sobre a possíbilidade ou não de sua religião lhe dar respostas. Talvez aí, resida o grande trunfo do filme. Afinal: Seriam padres, pastores, rabinos, macumbeiros, etc., capazes de dar respostas sobre você, que nem você mesmo consegue respondê-las?
O filme entra como azarão no Oscar de 2010, concorre também a roteiro original, mas deveria também estar em melhor ator, para Sthulbarg. No mais, aquele final de Um Homen Sério é algo que por anos e anos será estudado por cinéfilos afora, de uma beleza comovente sem tamanho. Indefinível ao mesmo tempo que genial. Não seria exageiro dizer que trata-se de uma das grandes obras dos Coen, embora a simplicidade como o filme se ergue pareça sugerir o contrário.
P.S. : os caras são realmente geniais em citações. Meu Deus, me lembro de como eles fizeram de E aí, meu irmão, cadê você? uma verssão da Odisséia adaptada ao meio-oeste americano. Aqui, é ainda mais brilhante. Sim, ainda há de refletir sobre a relação de gueto que são mostrados os judeus do filme. Não sabemos quando ele se passa, se em 1967, ou 1970 (pelos discos citados…). A Trilha Sonora é foda demais, assim como a Fotografia, relação entre contatos étnicos, diálogos, interpretações, decoração interna, mise-en-scène…
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