Interligar a relevância social de uma obra ao um fator “x” que trará o público aos cinemas, certamente é uma tarefa para poucos realizadores, e este é o caso do cineasta José Padilha, criador de um dos maiores fenômenos de bilheteria em solo nacional. Em 2010, Tropa de Elite 2 foi provavelmente um dos lançamentos mais aguardados do circuito, o que além de garantir um sucesso comercial certo (vide a repercussão do primeiro filme), abriu ainda mais os olhos da população brasileira para problemas que todos vêem a cada dia que passa, mas que, provavelmente, por isenção de culpa, fecham os olhos para fingir que não existem.
Tropa de Elite 2 conseguiu conferir ainda mais impacto que seu anterior, isso porque, esta seqüência foca sua crítica essencialmente na sociedade atual, apresentando um ângulo ainda mais verossímil da condição em que nosso país se encontra, uma vez que abandona a categoria de “filme de ação” que embala o filme antecessor – o maior defeito, diga-se de passagem. Aqui se passaram treze anos desde os eventos mostrados no primeiro filme, e, mesmo passados mais de uma década, o Brasil continua caminhando para lama, se perdendo pela corrupção e o mau-caratismo daqueles que o representam. Seja para o bem ou para o mal, Tropa de Elite 2 carrega consigo uma carga ainda mais pesada que o primeiro, não em aspectos de violência física, mas sim na análise objetiva ao país que hospeda tanto mal para si próprio.
O segundo filme gira em torno da trajetória do Capitão Nascimento (Wagner Moura), agora pai de um rebelde adolescente e separado de sua esposa; que se tornou um sujeito amargurado com o destino que sua pátria toma, e agora ele deve balancear o desafio de pacificar uma cidade ocupada pelo crime com as preocupações trazidas por seu filho problemático. Porém, Nascimento enfrentará algo maior que imaginava a princípio, uma vez que não é apenas nas favelas que se concentram os problemas que ele precisará bater de frente.
Padilha faz uma bela rotação entre o primeiro e o segundo capítulo da trama, abandonando um pouco da ação e partindo mais para o verbo, prezando cada vez mais a participação do espectador sobre tudo que é mostrado. A obra marca com precisão a análise social, de um ponto de vista crítico, porém ao mesmo tempo otimista, afinal, o próprio protagonista, Nascimento, é um símbolo de heroísmo que nosso país tanto carece para protegê-lo, é um homem com inúmeros fracassos e imperfeições, obviamente, entretanto, mesmo com suas limitações, ele luta por aquilo que ama e acredita, e isso já é um ato guerreiro.
Tropa de Elite 2 propõe o debate, dessa vez mais fundado e inevitável que o antecessor, dessa maneira, ainda mais socialmente e cinematograficamente relevante. É, sem sombra de dúvidas, uma das maiores realizações de nosso cinema nestes últimos tempos, e também é a prova de que mais e mais pessoas, como Padilha, se mobilizam com a situação do Brasil. E, isso serve como base para acreditarmos que nessa história não existe apenas vilões, mas também pessoas que realmente se importam com o bem-estar de todos, em uma obstinação que, acredito, culminará numa salvação para o caos em que nos encontramos.
Isso pode ser um pensamento utópico, admito, porém se não nutrirmos nossos sonhos, em que poderemos acreditar amanhã?
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