Contrariando a própria expectativa ruim, me vi surpreendido ao decorrer desse filme, cuja divulgação indicava que não havia muito jeito dele escapar das armadilhas de sempre da safra de terror atual. Digo isso porque todos os clichês estavam lá, bem delimitados: a casa nova e intimidadora; a família que parece saída de comercial de margarina, feliz até os eventos se sucederem; e os pontuais especialistas em casos de ordem oculta. Ou seja, não se distanciava muito de uma adaptação do clássico Poltergeist – O Fenômeno (Poltergeist, 1982), por exemplo.
Mas Sobrenatural (Insidious, 2010), para minha admiração, soube como escapar com destreza do caminho de previsibilidade a qual estava fadado, por causa da direção precisa de James Wan. O jovem diretor malásio, que ganhou algum renome por estar por trás da criação do divertido Jogos Mortais (Saw, 2004) e da produção de suas sequências, põe a historinha manjada em segundo plano e dá vez a uma atmosfera de ameaça constante, pontuada por momentos de terror que ultrapassam o pouco eficaz recurso do alto acorde na trilha somada a um rápido corte de câmera.
Sua maior arma não é permear a narrativa com sustinhos aqui ou acolá, mas fazer com que o terror se instaure na cena de um modo a não sair, como se a cada minuto algo fosse cair sobre os protagonistas e ainda sim permanecer no enquadramento, como um objeto de cena, uma peça na mobília daquela casa. Na primeira metade, a ameaça está sempre lá, embora sempre desconhecida em sua origem, em sua forma exata e talvez por isso mesmo mais amedrontadora, com direito a grandes momentos como a sequência do monitor de bebês, o relato do sonho da avó ou aquela onde a mãe, já suspeitando das atividades sobrenaturais, avista alguém no quarto de sua filha pequena.
Por isso mesmo o filme perde um pouco de sua força no segundo ato, após descoberta a origem dos males que assolam aquela família, onde passa-se a dar mais atenção para as previsíveis revelações do enredo e abre-se espaço também para um alívio cômico de gosto duvidoso com as figuras dos dois ajudantes paranormais, cujo humor parece inserido à força e rendendo um efeito bastante anti-climático.
É de sua metade para o fim que Sobrenatural quase tropeça feio ao mostrar demais (especialmente quando transfere sua ação para o tal “The Further”, espécie de limbo), explicitar mais o que funciona justamente por ser obscuro e ameaçadoramente incógnito. Mas esses pesares não diminuem, de modo algum, a força de seu primeiro ato, das certeiras escolhas da direção e de alguns momentos genuinamente horripilantes, como, infelizmente, não se vê com frequência no cenário atual dos filmes de terror americanos.
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