Correm histórias internet a fora sobre algumas primeiras leituras feitas do roteiro desse filme escrito por Andrew Kevin Walker que fizeram com que atores viessem a recusar os papeis para os quais haviam sido inicialmente pensados e produtores afirmando ser inviável levar às telas um filme que expõe o que há de mais pobre no homem e na sociedade que o rodeia, sem muitas cerimônias. São críveis essas pequenas curiosidades de bastidores porque, sim, poucos thrillers das últimas décadas, filmes essencialmente de gênero e, por isso, abertamente comerciais, foram tão ousados e influentes quanto esse exemplar da década de noventa.
O falado roteiro de Seven – Os Sete Crimes Capitais não tem nada de muito original em si, sequer procura fugir de alguns dos esquemas comuns aos suspenses policiais, mas carrega consigo algumas observações extremamente incisivas sobre o caos do mundo contemporâneo, que dificilmente não chacoalharão um público médio acostumado a produtos de digestão fácil e automática. David Fincher, vindo do fracasso de público e crítica de Alien³, incumbe-se, então, da difícil tarefa de transportar o que há de mais cáustico no texto de Walker, sem perder de vista o velho formato do suspense comercial que é.
Então, em momento algum o discurso assume as rédeas do bom e velho filme de gênero, que não se furta de usar os clichês como a dinâmica entre policiais de comportamento diametralmente opostos mas que de algum modo funcionam juntos (Brad Pitt e Morgan Freeman, ótimos), os mistérios acerca do assassino e principalmente o que o move a fazer o que faz – no caso, matar as pessoas de acordo com os pecados capitais descritos pela Bíblia- e a tradicional perseguição, como um jogo de gato e rato, só que mais consistente e mais traiçoeiro que qualquer um desses genéricos que entopem os cinemas, porque Seven vai além, por oferecer, dentro desse padrão, performances mais vigorosas, direção mais cuidadosa, atmosfera mais intensa e, especialmente, propor uma reflexão mais duradoura que os seus 120 minutos permitem, atirando o expectador para fora da sala com imagens e discursos que inevitavelmente ressoam.
Não saber da surpresa final, claro, intensifica a experiência que Seven oferece, embora o que o filme verdadeiramente propõe vai muito além do choque imediato – que com certeza foi a causa do receio inicial que atores e produtores tiveram ao ler o roteiro que circulava há anos em Hollywood antes de David Fincher assumir o projeto –, já que a medida que os assassinatos vão acontecendo e, ao mesmo passo, vamos compreendendo melhor quem são os dois sujeitos dispostos a elucidar o intrigante mistério, imergimos em um retrato arrasador sobre o ambiente urbano, que fica conosco muito tempo depois que os créditos sobem e a sessão acaba.
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