O método mais fácil encontrado por Danny Boyle para narrar os sacrificantes cinco dias do alpinista Aron Ralston, em abril de 2003, foi o de transformar toda a ação (ou a falta dela, afinal estamos falando de um homem sozinho com sua câmera, com pouco a se fazer, exceto pensar em um meio de sair dali – ou então sucumbir à morte iminente) dentro da fenda onde ele conseguiu sobreviver mesmo com o braço prensado entre rochas durante as 127 horas do título, sem comida e nem água, em uma espécie de videoclipe vestido de longa-metragem, cheio de cortes rápidos, uma montagem frenética e telas duplicadas.
O diretor, talvez temendo não segurar o interesse do público com a história em si, deixa de lado o drama sisudo de sobrevivência e solidão, ao abominar a introspecção e se entregar a opções estéticas e narrativas que não fogem ao modelo de uma propaganda televisiva. Não surpreende, portanto, a escolha da fotografia esfuziante (que até destaca a beleza paisagística do lugar) ou a inserção descarada de merchandisings, como o da Gatorade. Não são muitos os momentos do filme em que se nota alguma realmente preocupação com a história que tem em mãos, a ponto de parecer que o episódio real nada mais é que não um veículo para o cineasta exercitar um estilo visual – que, na verdade, nem existe; é só pura vaidade mesmo.
Não nos esqueçamos de que o homem em questão é o mesmo que esteve por trás da atitude de amenizar a forte realidade indiana em nome de um tom folhetinesco (confesso que o filme funcionou moderadamente comigo, apesar dos pesares) com Quem Quer Ser um Milionário?, o que lhe garantiu, claro, vários prêmios naquele ano; e como não seria diferente, a secura da história do alpinista (dá para imaginar que 127 horas passadas sozinho, preso dentro de uma fissura, não têm, em si, muita coisa que valha uma ficção em longa-metragem) é transformada em um monólogo de pouco mais de uma hora e meia, freneticamente editado, e sustentando, principalmente, por causa de James Franco que, ao contrário do diretor, crê no personagem e na intensidade da situação.
O ator, que mereceu a indicação, sustenta Aron Ralston porque confia mais nas possibilidades dramáticas do sobrevivente que, propriamente, na concepção esteticamente carnavalesca que o filme traz sobre os terríveis dias vividos por ele. O que me surpreendeu, já que, particularmente, não o via como um ator confiável (mesmo esse 127 Horas não acabou com todas as minhas ressalvas), foi o fato de ele ter conseguido transmitir muitas das nuances que o roteiro - escrito por quem? Isso mesmo, Boyle, de novo - aparentemente não abriu espaço para ele construir, e sair praticamente ileso das intervenções visuais bizarras do diretor, superando muitas de suas limitações como intérprete, vistas em filmes anteriores.
Pena o veículo por onde ele tenha conseguido, enfim, mostrar uma interessante e bem reconhecida força dramática seja um filme tão caótico e mal concebido de forma geral. O conto de superação é quase completamente esmagado por uma mão pesada, que apela para o visual excessivo e para uma técnica que mostra Boyle como alguém muito menos preocupado em contar uma boa história do que em exercitar um estilo estético que, na verdade, não passa de uma risível vaidade.
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