Monstros e criaturas abomináveis já estão desgastadas e hoje em dia soam clichês. Os únicos motivos que me levaram ao cinema para assistir "O Nevoeiro" foram a direção de Frank Darabont (À Espera de Um Milagre; Um Sonho de Liberdade) e o fato do filme ser baseado em um conto de Stephen King, publicado aqui no Brasil com o título de "Tripulação de Esqueletos".
Uma cidade americana do estado de Maine sofre de uma terrível e avassaladora tempestade. Os moradores correm para o mercado, com o intuito de comprar alimentos e conveniências, já que possivelmente haveria mais uma tempestade. Entre estas pessoas, estão David Drayton (Thomas Jane) e seu filho Billy (Nathan Gamble). Porém, um inesperado e denso nevoeiro surge e encobre toda a cidade. Mais inesperado ainda é que, do lado de fora, obscuros no cinza, estão criaturas sangrentas e malígnas, que impedem a saída dos cidadãos do mercado. É uma questão de tempo para que tais monstros consigam adentrar, e eis que começa uma sangrenta luta pela sobrevivência.
As impressões que tive ao lê-la foi de um filme violento, apelativo e sem graça, que tenta inutilmente assustar quem assiste. Porém, eu estava enganado.
Na maior parte do tempo, a trama tem como palco o mercado em que os personagens estão abrigados. São incríveis 105 minutos de totais 127 em que o cenário é o supermercado com as mesmas pessoas. Mesmo assim, o filme conseguiu desenvolvê-los muito bem, nos apresentando figuras marcantes, como o protagonista David Drayton (Thomas Jane), o contaditório funcionário vesgo campeão de tiro ao alvo Ollie Weeks (Toby Jones) e, principalmente, a fanática religiosa Sra. Carmody (Marcia Gay Harden) e o filho de Drayton, Billy (Natham Gamble).
"O Nevoeiro" ganha pontos ao não repetir os mesmos erros e clichês de filmes do gênero, e consegue equilibrar ficção, terror e drama. A direção de Frank Darabont trouxe elementos não muito comuns do gênero e mesmo com a limitação de quase apenas um ambiente o filme passou longe de ser monótono. São poucos os fatores que freiam a obra, mas passam despercebidos diante de tantas qualidades.
Os monstros no nevoeiro ficam de plano de fundo e não aparecem tanto, pois eles não são o único foco. Há ênfase em abordagens sociais, psicológias e religiosas. E, principalmente, às atitudes dos humanos no desespero.
Outro ponto forte é o elenco, que trabalha muito bem e cumpre com a proposta dos personagens. Sentimos perfeitamente a agonia e os turbilhões de sentimentos que os personagens passam na situação crítica da trama, correndo risco de vida e lutando por sobrevivência. A cena em que criaturas voadoras invadem o mercado foi muito bem feita e um tanto cômica no momento em que um infeliz se atrapalha ao tentar matar um monstro, mas acaba SE matando. Os destaques vão para a atuação de Thomas Jane na pele de Drayton, o principal, que tenta salvar seu filho, salvar-se e salvar as pessoas ao seu redor. Nathan Gamble também tem um brilho, devido à seu talento prodígio, dando uma aula aos garotos que um dia desejam serem reconhecidos como atores. Mas o maior destaque vai para Marcia Gay Harden como a Sra. Carmody. É visível o seu talento em suas aparições, e tão convincente foi sua coadjuvante que roubou as cenas em que apareceu, conseguindo fazer com que sentimos raiva de sua personagem, de seu fanatismo e das barbaridades que ela comete em nome de Deus. Ela é a "vilã" do filme, ao lado dos monstros perigosos.
Porém, além dos monstros, há subtramas que ocorrem dentro do próprio mercado, que envolvem a pseudo-profetisa Sra. Carmody e ação e reação dos humanos diante do precipício. No início, todos só sentiam raiva daquela senhora exagerada. Mas ao passar do tempo, seus discursos bíblicos foram convencendo algumas pessoas e estas passaram a formar um perigoso grupo seguidor da personagem. Mesmo dentro do mercado, Drayton e seus companheiros não ficaram a salvo diante da Sra. Carmody e sua perigosa "trupe". Passamos então a temer tanto as atitudes daqueles cidadãos quanto os monstros abomináveis ocultos no nevoeiro do lado de fora.
E além de todo este ótimo desenvolvimento, temos um final abalador, que provoca um turbilhão de pensamentos, e nos faz oscilar entre gostar ou não. Pelo menos comigo foi assim. Um fim inesperado, realista e dramático. Dos meus palpites inciais, acertei que o filme seria violento. Frank Darabont não poupou as mortes. Não vá assistir "O Nevoeiro" esperando os mesmos desfechos e coisas de sempre, em que so queridinhos sobrevivem e derrotam os monstrengos feiosos, ou então irá se decepcionar. A obra é realista e pesada, não cedendo espaço a pena e mesmisses de sempre. Stephen King terminara seu conto com a imagem de um gigantesco ao quadrado monstro caminhando perto do carro em que Drayton e seu grupo conseguiram fugir. Já o filme foi além e nos apresentou um desfecho incrível que certamente deixou King de pernas bambas e com inveja, pois além destas tantas qualidades nos faz refletir.
Dos suspenses atuais, O Nevoeiro está entre os melhores. Um filme que equilibra terror, ficção e drama, quebrando os erros e clichês infortúnios de filmes do gênero. Frank Darabont firma-se como um ótimo diretor ao nos presentar com esta ótima obra de suspense, recomendada para quem estiver à procura de um filme competente.
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